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Clima em Lima
A 20ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima (COP-20) entra hoje (8) em fase decisiva na capital peruana. Os primeiros escalões de 196 governos se reúnem com a espinhosa missão de delinear as bases de um novo tratado, a ser adotado dentro de um ano em Paris.
As negociações internacionais quanto a medidas para combater o aquecimento global têm longa e conturbada história. Desde 1992 busca-se um acordo para reduzir emissões dos gases do efeito estufa, como o CO2, que aprisionam radiação solar na atmosfera.
De lá para cá, contudo, as emissões anuais aumentaram 45%. Está em risco a meta de impedir que a elevação da temperatura global ultrapasse 2°C, limiar além do qual a mudança climática, segundo cientistas, pode provar-se desastrosa.
Ninguém mais conta com um tratado que estipule compromissos legais vinculantes (obrigatórios), ao estilo do Protocolo de Kyoto (1997), que se revelou um fracasso. Pelo novo modelo, cada nação propõe objetivos que julga alcançáveis e, ao final, calcula-se se bastarão para atingir o objetivo de 2°C.
A reunião de Lima tem a incumbência de definir critérios para comparar os diversos prazos e modalidades dos compromissos voluntários. Mesmo sem eles, especialistas preveem, com base no que está à mesa, que o limiar de segurança será em muito ultrapassado.
Grosso modo, a atmosfera suporta até 1 trilhão de toneladas adicionais de CO2 para ter chance de não ultrapassar 2°C. Pelo menos metade desse "orçamento de carbono" já foi despendido, porém.
Os contabilistas do clima estimam que a humanidade esteja sacando a descoberto coisa de 10 bilhões de toneladas anuais, ou seis vezes o emitido pelo Brasil. Até 2050, seria preciso voltar a zero, o que implicaria paralisar a queima de carvão, petróleo e gás.
E isso depois de EUA e China terem anunciado um acordo bilateral ambicioso (ao menos no que respeita à meta americana de cortar, até 2025, de 26% a 28% de suas emissões em 2005). Os dois maiores poluidores produzem cerca de 2/5 do CO2 de origem humana.
Foi um passo insuficiente, mas alguns analistas acreditam que servirá de exemplo para que outros países, como Índia e Brasil, apresentem metas mais ambiciosas.
Com o que se definir em Lima, até o próximo fim de semana, será possível ter uma ideia sobre o que esperar de Paris. Repetido o fiasco de 2009 em Copenhague, é certo que se fechará a janela aberta para uma ação eficaz contra transformações preocupantes do clima.