Vinicius Mota
Pegos no contrapé
SÃO PAULO - A crise financeira global que eclodiu no final de 2008 encontrou a economia brasileira em boa forma. O governo federal desde 1999 cuidava de reduzir o endividamento público. Em meados da década, passou a acumular volumes respeitáveis de reservas em moeda estrangeira.
No ano da crise, o PIB acelerava 5%, coroando um período de cinco anos de alta média acima de 4%, o dobro da marcha das décadas de 80 e 90. O Banco Central atravessou 2008 a elevar os juros, a fim de evitar o superaquecimento. A inflação ficou pelo quarto ano seguido abaixo de 6%, dentro da meta declarada.
Isso permitiu ao Brasil antepor-se à maior tempestade financeira desde a crise de 1929 com uma plataforma anticíclica eficaz: queda dos juros, impulso no crédito, garantias em dólares aos exportadores, incentivos fiscais ao consumo, expansão da dívida e dos gastos estatais.
Se não evitou a desaceleração abrupta da produção (de 5,2% em 2008 para -0,3% no ano seguinte), a reação política evitou a desordem financeira e ajudou a recolocar a economia rapidamente no trilho do crescimento. Em 2010 o PIB cresceu 7,5%, o que faria Tiririca eleger-se presidente se fosse apoiado por Lula.
O erro veio depois, quando o governo Rousseff tomou o que deveria ser um remédio excepcional e passageiro por uma "nova política econômica". Produziu inflação e baixo crescimento, entupiu as artérias da finança pública e esgotou a capacidade de reação do Tesouro e do BC.
Este ano será de modorra global, na melhor das hipóteses. Alguns países terão condições de baixar os juros, ampliar a despesa e a dívida do governo e até despejar dinheiro na economia, o que parece prestes a ocorrer na Zona do Euro.
Ao governo brasileiro, que se iludiu durante quatro anos, só resta puxar o freio, o que vai exacerbar os efeitos do marasmo mundial no já estagnado mercado doméstico.