A direção da Petrobras
Mudanças em curso na petrolífera surgem como reação aos desmandos passados e, espera-se, proteção para o futuro
Apenas nos últimos meses a sociedade pôde conhecer a real extensão do estrago nas contas públicas e nas empresas estatais, provocado por desmandos e irresponsabilidades nos governos Lula e Dilma Rousseff (ambos do PT).
Ainda que tardio, há ao menos o consolo de que as instituições começam a reagir, buscando reparar os danos e aperfeiçoar os necessários mecanismos de prevenção.
Talvez nada reflita melhor esse estado de espírito do que a mudança em curso na Petrobras e no setor de óleo e gás. Depois do descalabro que levou à perda de R$ 51 bilhões em 2014, a nova direção da empresa reconhece a urgência de profunda alteração de hábitos.
Melhoria de controles internos, adoção de critérios mais rigorosos para aprovar projetos, ênfase em exploração e produção, preservação de caixa e redução do endividamento são as novas prioridades.
Não por outra razão a Petrobras pretende submeter ao seu conselho de administração algumas propostas para reestruturar o alto escalão. Uma das ideias é diminuir o poder dos diretores e ampliar a responsabilidade dos gerentes.
Também se inclui nesse contexto a tentativa da estatal de renegociar contratos com fornecedores. Com o rebaixamento dos preços do petróleo, as grandes empresas do setor estão cortando despesas --e toda a cadeia de materiais e serviços se ajusta a essa realidade. Natural que o mesmo aconteça no Brasil.
Em outro flanco, ganha tração no Congresso Nacional o projeto que modifica a legislação do pré-sal, desobrigando a Petrobras de participar com 30% dos investimentos nos novos campos e de atuar como operadora única. A proposta parece contar com a simpatia de várias frentes, incluindo políticos de localidades produtoras.
Haverá batalhas difíceis, por certo. O corte do plano de investimentos, que implica demissões, tem sido combatido pelo sindicato dos petroleiros, ligado à CUT. Os sindicalistas alimentam a noção equivocada de que atrair empresas estrangeiras entraria em conflito com o interesse nacional. Quanto a isso, a estatal precisa ser firme.
A mudança dos ventos em direção ao aperfeiçoamento institucional é ampla. Nas últimas semanas, ganharam destaque no Congresso propostas destinadas a melhorar a gestão das empresas estatais. Não se descarta, além disso, que prospere o intento de impor limites de gastos e dívida para a União, da mesma forma que existem para Estados e municípios.
Que esse tipo de orientação não seja apenas uma resposta oportunista e passageira à acumulação de escândalos. O país precisa se modernizar, para que não volte a ter espaço a cultura do descaso e do voluntarismo que resultou em tantos prejuízos nos últimos anos.