Análise
Crise na Petrobras tem potencial para superar a do mensalão
Mal saído das urnas, o governo Dilma enfrenta uma crise com potencial de superar a do mensalão em impacto institucional. Parece muito difícil para a presidente escapar dos respingos do viscoso óleo da corrupção encontrado pela Polícia Federal no subsolo da Petrobras.
O trabalho do governo será o de administrar o dano, imprevisível dado que ainda há muito a ser descoberto.
Para ficar na frase eternizada pelo antecessor e candidato a sucessor de Dilma, Luiz Inácio Lula da Silva, "nunca antes neste país" altos executivos de grandes financiadores de campanhas eleitorais foram presos acusados daquilo que todo mundo no universo paralelo da política sempre soube.
Três frentes políticas principais desafiam o Planalto. Primeiro, a governabilidade, já que é principalmente sobre a base aliada no Congresso e membros do Executivo que pende a espada de Dâmocles do escândalo --ao menos 70 nomes são ventilados como envolvidos em algum grau.
Segundo, a gestão do caso por Dilma. Ela era a chefe do setor energético, foi presidente do Conselho de Administração da Petrobras e, no Planalto, acompanhou a estatal. Ou sabia do caso, o que nega, ou foi enganada, o que politicamente é desastroso.
A alegação de que demitiu os diretores suspeitos leva ao questionamento sobre ela ter tentado resolver o problema internamente, mas não tomando a providência legal óbvia, que seria chamar a PF e o Ministério Público.
Por fim, Dilma insiste que a polícia investigará "doa a quem doer". Com algumas das empresas mais ricas do Brasil e um caminhão de políticos sob suspeita, a PF está sob pressão --e o ministro da Justiça intimidar delegados que expressaram opiniões em redes sociais fechadas não ajuda em nada.
À mão de Dilma está o expediente de brandir a bandeira da reforma política, já que está sendo desnudado como são pagas campanhas no país. Ela já tinha voltado ao tema desde a reeleição, talvez de olho na Lava Jato.
Além disso, é preciso um plano de contingência para tentar estancar o desmoronamento da credibilidade e das ações da Petrobras.
A confusão causada pelo adiamento da divulgação do balanço da estatal e o potencial de dano da investigação contra a empresa nos EUA só agudizaram a crise.
E isso tudo ocorre com o PMDB rebelado na Câmara, com o ministério à espera de mudanças, com o mercado apostando contra o governo, com a gambiarra fiscal em evidência e com a adoção de medidas associadas à oposição.
Não é pouca coisa. Como disse um integrante do governo, há uma sensação de "dique da Holanda" em rompimento. É a maior crise do governo Dilma Rousseff.