Aécio vai procurar PMDB para debater saída para crise
Tucano sugere aproximar oposição da ala do partido contrária ao governo
Após apelo de FHC para alinhar discurso de líderes do PSDB, tucanos fazem acenos a partido aliado de Dilma
Um dia depois de o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso reunir os principais líderes do seu partido, o PSDB, para alinhar o discurso da oposição, o senador Aécio Neves (MG), dirigente nacional da sigla, disse que vai procurar alas do PMDB contrárias ao governo para discutir uma saída para a crise política.
O aceno ocorre menos de duas semanas depois que os peemedebistas começaram a dialogar com outros partidos e líderes empresariais sobre as condições que o vice-presidente Michel Temer teria para governar se o agravamento da crise levar ao afastamento da presidente Dilma Rousseff.
"Faremos uma reunião com os líderes dos partidos de oposição, inclusive com setores do PMDB, e com os juristas que têm expressado, de forma muito clara, também, a sua posição em relação à solução dessa crise", avisou Aécio, em entrevista nesta terça-feira (18), em Brasília.
"Nesse instante, é absolutamente fundamental que todos voltemos os olhos aos tribunais. Seja o Tribunal de Contas, seja o TSE [Tribunal Superior Eleitoral], para que não sofram qualquer tipo de constrangimento", concluiu.
O TCU (Tribunal de Contas da União) retomará em breve o julgamento das contas de Dilma, em que foram apontadas irregularidades como as chamadas pedaladas fiscais. O TSE investiga suspeitas de abuso na campanha do PT no ano passado. As duas frentes podem abrir caminho para o impeachment de Dilma.
A disposição de Aécio em conversar com o PMDB representa um recuo da ala que o apoia no tucanato. Há duas semanas, seus apoiadores defenderam a renúncia de Dilma e Temer e a convocação de novas eleições como único caminho para sair da crise.
A sugestão foi mal recebida no partido, e um dos porta-vozes desse movimento, o senador Cássio Cunha Lima (PB), reconheceu nesta terça que não foi "feliz na declaração".
Assim como Aécio, outros líderes tucanos que também estiveram com Fernando Henrique nos últimos dias passaram a falar abertamente sobre a fragilidade do governo e a aproximação com o PMDB.
Em entrevista ao programa "Roda Viva", da TV Cultura, na noite de segunda (17), o senador José Serra (SP) disse achar "difícil" que Dilma consiga se manter no poder até o fim de seu mandato, em 2018. Ele afirmou que, se ela for mesmo afastada do cargo, o PSDB deverá atuar para dar sustentação ao novo governo.
"Como foi com Itamar Franco", concluiu Serra, lembrando a coalizão política formada antes do afastamento de Fernando Collor em 1992 para dar apoio ao seu vice.
A adesão do PSDB a um eventual governo Temer não é consenso no partido. Tucanos como o senador Aloysio Nunes (SP) acham que a legenda não deveria ocupar cargos numa administração liderada pelos peemedebistas.
Também convocado por FHC para amarrar o discurso tucano, o governador paulista, Geraldo Alckmin, manteve o tom cauteloso ao comentar o assunto nesta terça e recorreu à memória para falar do impeachment de Collor.
"Se surgir uma proposta de impeachment, o partido [PSDB] tem o dever de analisá-la", disse, ressalvando que o tema deve ser tratado "à luz dos fatos" e que hoje, sem o parecer do TCU sobre as pedaladas, "não existe" algo que justifique o afastamento.
Por fim, ao defender o impedimento como instrumento constitucional, lembrou: "Eu já votei a favor do impeachment no caso do presidente Collor".