Mecanização muda o foco de pastoral e extingue moradias
Migrantes do Nordeste e de MG deixam cana e miram laranja e construção
Oito padres deixaram Guariba neste ano; em Matão, vigia toma conta de alojamento vazio no meio de canavial
Com o avanço da mecanização na colheita da cana para atender exigências ambientais, a figura do migrante hoje praticamente inexiste na região, o que gerou mudanças no foco de atuação da Pastoral do Migrante e extinguiu alojamentos de usinas.
A vinda de nordestinos e mineiros do Vale do Jequitinhonha a cada safra faz parte da história canavieira do interior de São Paulo.
O Levante de Guariba, em 1984, mais famoso movimento trabalhista da categoria, resultou na melhoria das condições enfrentadas nas lavouras. Agora, sem trabalho, muitos partem para outras regiões para colher laranja ou atuar na construção civil.
A mudança desse cenário põe fim a parte do trabalho da pastoral, que, no momento em que completa 30 anos, procura uma maneira de se reinventar.
Oito padres missionários deixaram Guariba no início do ano para missões em outras cidades. Permaneceram freiras e voluntários.
Alojamentos de trabalhadores que restavam foram desativados. Eram nesses prédios que dormiam centenas de boias-frias, muitas vezes em situação desumana.
As maiores usinas chegaram a ter ao menos cinco alojamentos, com capacidade para 400 trabalhadores cada.
Em uma usina de Matão, restou apenas um vigia que toma conta do espaço vazio no meio do canavial.
"A situação era bem precária, não havia zelo nenhum com o povo", diz Ignácio Bernardes. Nos anos 60 ele era funcionário de usina, mas atuava como voluntário, dando assistência aos migrantes.
O voluntário da pastoral Luze Azevedo conta que, entre os anos 80 e 90, chegavam em média 15 mil trabalhadores à região por ano. Vinham e voltavam para casa a cada fim de safra. "Hoje não há mais que mil cortadores."
O boia-fria José de Almeida da Silva, 43, por exemplo, atualmente divide uma casa com outros três trabalhadores rurais. Já foram 18.
Azevedo diz que o trabalho da pastoral não vai acabar, pois não é voltado apenas aos trabalhadores da cana.
O rumo que tomará, no entanto, está em discussão. Segundo o voluntário, uma proposta é criar uma cooperativa para mulheres e familiares de migrantes que ficaram na cidade cultivarem rosas. Outra prevê aulas de artesanato às mulheres migrantes.
A mecanização é resultado do protocolo agroambiental assinado entre usinas e o Estado, que põe fim à queima da palha da cana. Ele dá prazo até o final de 2014 para a queima. Em áreas menores, de difícil acesso de máquinas, o prazo vence em 2017.