Migrantes buscam laranja e construção
Problemas que existiram na cana, como alojamentos precários e desrespeito à lei, são sentidos nas novas áreas
Citricultores e construtoras já foram obrigados a assinar acordos por melhorias após irregularidades
Com o avanço da mecanização na colheita da cana-de-açúcar e a consequente extinção de postos de trabalho, a travessia do Nordeste do país ao interior de São Paulo hoje é feita em busca de vagas na construção civil ou em pomares de laranja.
Sem trabalho em suas cidades de origem, a viagem a São Paulo ou a outros Estados, como Goiás e Mato Grosso, é destino certo.
O procurador do Ministério Público do Trabalho José Fernando Ruiz Maturana afirma que a colheita de laranja, principalmente no oeste do Estado, está se transformando em um momento semelhante ao vivido com a safra da cana-de-açúcar.
"De fato, o trabalho nos canaviais é muito mais penoso, mas encontramos problemas trabalhistas na construção civil e na laranja", disse.
Entre os exemplos, estão alojamentos precários e descumprimento de leis trabalhistas. Segundo o promotor, empresas das duas áreas já foram submetidas a um acordo com o Ministério Público nos últimos anos.
"A colheita da laranja contava com trabalhadores idosos e mulheres. Houve uma migração dos trabalhadores da cana para a laranja, em grande parte de homens, o que agradou as empresas."
Foi o caminho que escolheu José de Deus Chaves da Silva, 19, que ainda criança deixou o Maranhão e se mudou para Guariba para que a mãe trabalhasse na cana.
Adulto, hoje trabalha em pomares de laranja. "Não está muito fácil encontrar serviço na cana."
A maranhense Maria das Neves Conceição, 36, também trabalha na citricultura desde que se estabeleceu em Guariba, há dez anos, e diz ver muitos homens voltarem para suas cidades por falta de trabalho. "A cana não existe mais. Não é como antigamente", afirma.
Em Guariba, há tradição de migrantes de Codó e Timbiras, cidades vizinhas no Maranhão, onde há dificuldade de emprego. "Não tem como ficar lá, o ganho é pouco", afirmou o boia-fria Domingo Costa, 43, que há pelo menos sete anos viaja para São Paulo para trabalhar na safra da cana.