Uruguai mescla pequena e grande vinícola
Propriedades familiares convivem com megaempreendimentos do vinho e recepcionam cada vez mais turistas
Brasileiros são os principais visitantes no país, especializado nas uvas tannat, que geram bebida de sabor intenso
Sentados diante de uma fileira de copos e garrafas, provando vinhos produzidos na pequena vinícola Alto de la Ballena, perto de Punta del Este, no Uruguai, somos –os proprietários e eu– interrompidos pela entrada de um casal de turistas. São brasileiros; passavam por ali de carro e resolveram entrar, atravessando os vinhedos até a sede. Queriam provar vinhos e saber os preços.
Essa região, no departamento de Maldonado, não é a mais tradicional em termos vinícolas. Mas conheci ali dois tipos de empresa que hoje vão desenhando a paisagem vinícola do país.
Uma delas –na qual bebia quando chegaram os turistas– é a pequena propriedade tocada há poucos anos pela família (no resto do país, especialmente em Canelones, porém, elas podem contar dezenas de anos e gestores de terceira ou quarta geração).
Outro tipo é representado pela vinícola que visitei a seguir, Garzón: um megaempreendimento de um milionário argentino do petróleo, que reúne uma cantina gigantesca e de ponta (fica pronta em novembro), produção de azeite de oliva e boa infraestrutura para receber visitantes.
A primeira tem meros 8 hectares de vinhedos (tamanho de aproximadamente oito campos de futebol); a segunda, 300. E em ambas, há visita constante de brasileiros –que, segundo estimativas de todas as vinícolas, chegam a 80% dos turistas. E todos compram algo. O Brasil é o maior mercado de exportação para o vinho de lá.
O Uruguai se tornou conhecido no mundo por suas bebidas feitas com a uva tannat, variedade francesa do Madiran, introduzida no país há 150 anos. Era inicialmente um vinho encorpado e duro; mas nos últimos 30 anos, quando os vinhedos começaram a ser replantados, o tannat uruguaio, mantendo a cor profunda, passou a ter taninos mais domados e sabor frutado.
Com isso, uma vinícola como a Pisano –há cem anos na mesma família– vende seus produtos para 50 países, mesmo mantendo-se uma empresa familiar e de pequeno porte. Com efeito, os bons tannat (maioria da produção do país, mas não exclusiva: há muito bons merlot e cabernet franc, por exemplo) encontram-se de várias marcas.
A maior concentração de vinícolas fica ao norte de Montevidéu, principalmente no departamento de Canelones, e quase sempre ostentando o nome das famílias proprietárias. São exemplo a Antígua Bodega Stagnari, a H.Stagnari, a Varela Zarranz, a Pizzorno, a Toscanini, a Castillo Viejo, a Marichal, a Ariano, a De Lucca e a Carrau (que tem vinhedos no Brasil, na fronteira, além de um irmão dos proprietários que produz vinhos na serra Gaúcha).
Fugindo um pouco do figurino, a Filgueira foi comprada por brasileiros de Minas Gerais, enquanto a Artesana, pequena vinícola butique, foi idealizada por um americano –mas é tocada por duas enólogas uruguaias.
Dentre as vinícolas com grande vocação para o turismo, estão a Bouza (com um ótimo restaurante), a Juanicó (com belas construções declaradas patrimônio histórico) e, mais distante, no oeste do país, em frente ao rio da Prata e com Buenos Aires do outro lado, a Narbona, obra de outro milionário argentino e que funciona como hotel.
Para saber mais sobre o tipo de recepção das vinícolas (em algumas é necessário agendar), consulte o site loscaminosdelvino.com.uy.