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31/01/2012 - 09h17

De volta ao Brasil, regente Luís Otávio Santos cria Orquestra Barroca

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JOÃO BATISTA NATALI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A afinação é rigorosa nas cordas, oboés, flautas e fagotes. Os andamentos, de imensa austeridade. Nessa versão da conhecidíssima suite "Pigmaleão", de Jean-Philippe Rameau (1683-1764), o padrão musical em nada perde para as grandes orquestras barrocas europeias.

Mas são os 30 instrumentistas da Orquestra Barroca, formada em julho último por professores do 23º Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga de Juiz de Fora (MG). Foi o 12º CD gerado sem maiores ostentações na história daquele festival.

Por detrás do projeto atua como diretor musical, regente e spalla (principal violino) Luís Otávio Santos, 39, um músico discreto. "Estou quieto no meu canto, trabalhando no que sei fazer", diz.

Mudou-se para a Holanda aos 18 anos, estudando por seis anos no Conservatório Real de Haia, onde passou a integrar ou liderar os violinos de conjuntos como La Petite Bande, Ricercar Consort, Collegiun Vocale Gent ou a Nederlandse Bachvereniging, regida por Gustav Leonhardt, um dos grandes do barroco na Europa.

Entre seus cerca de 30 CDs, Luís Otávio fez com o cravista Peter-Jan Belder a integral das sonatas de Bach para cravo e violino e, em 2005, recebeu o Diapason d'Or pelas sonatas para violino do compositor francês Jean-Marie Leclair (1697-1764). Nos CDs do festival de Juiz de Fora tem gravado Lobo de Mesquita e Nunes Garcia, entre compositores brasileiros do período colonial.

Antes de voltar ao Brasil o músico lecionou na Toscana e no Conservatório de Bruxelas. É há cinco anos professor da Emesp-Tom Jobim. Eis trechos da entrevista.

ENSINO MUSICAL
Ainda faltam às universidades brasileiras departamentos sólidos de ensino e pesquisa em música antiga. Mas nos últimos anos já andamos um bom caminho. Juiz de Fora foi nisso um polo de estímulo, atraindo músicos e promovendo bienais de musicologia histórica. Por ser um ponto neutro de reunião, o festival procurou conciliar personalidades que divergiam e lutavam por espaço acadêmico. Na Emesp (Escola de Música do Estado de São Paulo) ensinamos de sete instrumentos barrocos ao léxico da música antiga.

MÚSICA COLONIAL
Ela chegou a ser modismo há coisa de 15 anos, mas a visão que temos agora dela se estabilizou. Os estudos de repertório e interpretação são hoje mais sólidos. Ela tem seu lugar, com sua candura e, para alguns compositores, limitações. É uma música hoje mais conhecida, a partir de trabalhos começados há 50 anos.

REPERTÓRIO BARROCO
Os grupos europeus têm hoje suas atenções mais centradas. Há dezenas de compositores napolitanos ou venezianos do século 17 que não precisam ser lembrados. Gustav Leonhardt argumenta que enquanto as cantatas de Bach não forem executadas exaustivamente não vale a pena sair atrás de obras menores.

AFINAÇÃO
A idéia de ouvido absoluto está meio fora de moda. O que existem são ouvidos educados, sensíveis. Uma determinada nota pode ser dó, lá ou si, dependendo do diapasão. Bach chegou a usar três diapasões diferentes para órgão, cordas e sopros. Desde o final do século 19 o diapasão se estabilizou.

LUTHIER BARROCO
Dependemos de bons luthiers para instrumentos de cordas, mas sobretudo para os de sopro, em que instrumentos novos são imprescindíveis. Ao ao longo dos séculos os antigos se degradaram pela saliva. Para as cordas já temos especialistas no barroco, como Marcelo Vianna Cruz, de Belo Horizonte, que trabalhou muitos anos em Cremona.

VOLTA AO BRASIL
Em razão do festival eu sempre mantive um pé por aqui. Mas passei 16 anos na Europa e quase virei "produto de exportação" do barroco holandês. Não queria ser um eterno estrangeiro. Fiz como meu amigo [o maestro e flautista] Ricardo Kanji, que voltou depois de 25 anos.

 

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