Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
06/04/2012 - 09h24

Filme "As Neves do Kilimanjaro" critica esquerda 'aburguesada'

Publicidade

BRUNO GHETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Robert Guédiguian ainda não perdeu a fé no ser humano. Com uma obra que oscila entre o otimismo ("Marius e Jeannette", 1997) e a desesperança ("A Cidade Está Tranquila", 2000), o cineasta francês volta agora a afirmar sua crença em valores tradicionalmente esquerdistas, como solidariedade e generosidade, no longa-metragem "As Neves do Kilimanjaro", que estreia hoje.

"Fazer filmes como esse é reafirmar que eu creio no homem", diz Guédiguian, 58, por telefone, de Paris.

A produção mostra um líder sindical que, depois de anos de luta, perde o emprego. Com uma nova rotina, ele é surpreendido por um assalto, planejado por um ex-colega, também
desempregado.

A situação o faz entrar em crise e se dar conta de que talvez tenha se "aburguesado" demais com o tempo.

Sua reflexão o fará tomar atitudes inesperadas.

CRISE SOCIAL

"Sempre quis fazer filmes que mostrem que o sentimento de humanidade pode se revelar talvez ainda com mais força onde é vilipendiado. Nos instantes em que a sociedade está em crise, tento, com meus filmes, encorajar comportamentos que seriam exemplares", diz o diretor.

O título do filme se refere a uma canção de 1966 do músico francês Pascal Danel, a preferida do casal protagonista (Ariane Ascaride e Jean-Pierre Darroussin, colaboradores habituais do diretor).

A trama mais uma vez se passa em Marselha, cidade natal do cineasta. "Marselha tem vários pequenos signos que, unidos, formam as imagens que busco para meus filmes. Ao filmar ali, estou falando a minha língua."

Divulgação
Jean-Pierre Darroussin e Ariane Ascaride em cena de "As Neves do Kilimanjaro", filme de Robert Guédiguian
Jean-Pierre Darroussin e Ariane Ascaride em cena de "As Neves do Kilimanjaro", filme de Robert Guédiguian

FALSO NATURALISMO

De fato, é difícil imaginar o filme sem a paisagem mediterrânea e os calorosos marselheses. Para captar esse espírito, Guédiguian diz buscar uma certa invisibilidade como diretor, atrás do que ele chama de "falso naturalismo" --daí a aparente simplicidade de seu estilo, que, porém, deriva de um processo trabalhoso de concepção.

"Esforço-me para que ninguém veja que cenários e figurinos foram feitos para o filme. E quero que os atores digam suas falas da forma mais natural possível."

EXTREMA-ESQUERDA

Guédiguian faz seus longas pela Agat Films. A produtora funciona em esquema de cooperativa, em que seis colegas produtores fazem concessões para viabilizar os projetos de cada um.

Esse método, aliado ao teor de seus filmes, o torna um dos poucos diretores de orientação abertamente socialista na França hoje.

"Há 30 anos, eu me dizia de esquerda. Hoje, como o Partido Socialista [francês] defende ideias da direita, considero-me de extrema esquerda. Não há mais um compromisso com uma moral ou filosofia: a política se reduziu a uma administração técnica das coisas, isso está errado."

Amante de política, o diretor diz ter acompanhado de perto o governo Lula. "Acho que ele poderia ter se comprometido um pouco mais com os ideais de esquerda. Mas é evidente: foi mil vezes melhor do que governos brasileiros anteriores", afirma.

Comentar esta reportagem

Termos e condições

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página