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Gore Vidal, morto aos 86 anos, encarnou como poucos o papel do intelectual público
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DE SÃO PAULO
O escritor, ensaísta, roteirista e dramaturgo norte-americano Eugene Luther Gore Vidal morreu na madrugada de quarta (1º), em casa, em Los Angeles (EUA), aos 86. Ele estava com pneumonia.
Autor de 25 romances, dois livros de memórias, oito peças de teatro e centenas de ensaios, Vidal alimentou com gosto a persona do intelectual público, midiático e ávido pela controvérsia.
Como escritor, dedicou-se sobretudo aos romances históricos e de costumes. No cinema, colaborou com roteiros de filmes como "Ben Hur" (1959). Mas foi no papel de ensaísta político que o autor construiu seu prestígio.
"Gore é um homem sem inconsciente", dizia o escritor italiano Italo Calvino, sobre a lucidez do intelectual.
São dele as mais perspicazes observações sobre o declínio do império americano, que Gore Vidal dizia "estar apodrecendo em ritmo fúnebre", sobretudo pela afeição ao militarismo.
Liderou críticas à política internacional norte-americana no período das guerras do Vietnã e do Iraque. Classificou o ex-presidente George W. Bush como "o homem mais estúpido dos Estados Unidos". Também criticou o tratamento dispensado por Israel aos palestinos.
Após o 11 de Setembro, acusou o governo dos EUA de levar os ataques "para dentro de casa", com diplomacia que considerava equivocada.
Escritor americano Gore Vidal morre aos 86
MONTAIGNE
Pela destreza com que aprofundava temas políticos e refletia sobre as transformações da sociedade no pós-guerra, foi chamado de "uma versão americana de Montaigne". Fazia jus à comparação escrevendo com propriedade, humor e finas provocações intelectuais.
De origem aristocrática e neto do senador Thomas P. Gore (1870-1949) --para quem lia na infância, dada a cegueira do avô--, candidatou-se duas vezes ao Congresso. Derrotado, voltou à trincheira da reflexão política.
"Vidal é um dos raros seres civilizados que restam no nosso mundo", sentenciou Paulo Francis, em artigo publicado na Folha em setembro de 1980.
Também se destacou pela militância sexual. Com o livro "A Cidade e o Pilar", de 1948, causou furor por narrar um romance entre dois homens.
Já em "Palimpsesto", contou ter se relacionado com mais de mil homens e mulheres até os 25 anos.
Mas, com o ex-executivo Howard Austen, morto em 2003, Gore Vidal manteve um relacionamento de 55 anos. O segredo da longevidade da relação, segundo ele, era nunca terem dormido juntos.
Doente, fez a última aparição em 2009, quando ganhou o National Book Awards.
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