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'As grandes narrativas foram por água abaixo', diz o crítico Lorenzo Mammì
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SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO
Dois dos críticos de arte mais influentes do país, Lorenzo Mammì e Tadeu Chiarelli, lançam ao mesmo tempo coletâneas de textos que analisam o estado atual das artes visuais no Brasil e no mundo. Em seus argumentos, ambos parecem concordar que as artes plásticas chegaram a uma espécie de vale-tudo, um momento de experimentalismo exacerbado que veio depois do fim das grandes escolas e vanguardas.
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"Não há mais movimentos de transformação da linguagem artística", sentencia Mammì, que lança "O Que Resta", pela Companhia das Letras. "O que a gente conhece como arte contemporânea poderia ter se encerrado nos anos 1990." Segundo o crítico e professor da USP, o que restou para a arte hoje é a "função fundamental" de "criar estranhezas".
Também professor da USP e diretor do Museu de Arte Contemporânea da universidade, Tadeu Chiarelli vê um momento de "incerteza e tensão" nas artes visuais. "É o fim de um determinado relato, de uma compreensão do que deveria ser arte."
Daniel Kfouri/Folhapress | ||
Lorenzo Mammi, professor da USP e especialista em musica e filosofia |
Para ele, esse estado de ruptura vem desde a Semana de 1922. Em "Um Modernismo que Veio Depois", que sai pela editora Alameda, Chiarelli defende que os modernistas brasileiros estavam mais alinhados a um projeto conservador do que a ideais vanguardistas. Também faz críticas ao mercado e argumenta que a crítica de arte sumiu da imprensa e hoje se restringe ao meio acadêmico.
Leia abaixo trechos da entrevista com Lorenzo Mammì.
*
Folha - Depois das vanguardas do século 20, como o sr. vê o estado atual das artes visuais?
Lorenzo Mammì - Não há mais grandes movimentos de transformação da linguagem artística. Hoje, artistas usam vários meios para encontrar espaços, nichos de experiência estética que ainda são possíveis. O que não há mais na arte contemporânea é a utopia de transformação que havia até os anos 1970.
Eu diria que a arte povera e a arte conceitual foram os últimos grandes movimentos. O que a gente chama de arte contemporânea poderia ter se encerrado nos anos 1990.
Qual seria então a característica marcante da arte feita hoje?
O que me parece mais forte agora é a busca de um embate pessoal com o mundo. Os artistas não estão preocupados com a história da arte. Uma característica dos últimos anos é essa busca de experiência real mais do que uma relação com a história. É o que sobrou, é um risco pessoal nas relações com o mundo.
Como não temos mais uma perspectiva de transformação radical, não temos um problema a ser superado.
Arte hoje ainda é relevante?
Ela é mais necessária hoje do que em outros momentos. Vivemos num fluxo puro de informações. Então, o que resta nesse momento em que as grandes narrativas foram por água abaixo é essa função da arte de criar estranhezas, o que já é uma função fundamental nesses tempos de discursos homogeneizados.
Que tipo de estranheza é essa?
Artistas como o William Kentridge, difíceis de classificar. Não é autobiográfico nem intimista, mas busca uma experiência pessoal.
Em alguns casos, é algo espalhafatoso como Anish Kapoor ou Olafur Eliasson, que criou um sol no meio da Tate Modern, algo com impacto sensível muito forte. Não precisa de uma narrativa. É uma arte que é pura evidência.
O QUE RESTA
AUTOR Lorenzo Mammì
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 59,50 (416 págs.)
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+ Livraria
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