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Curvas e concreto compõem vocabulário de Niemeyer
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FABIO CYPRIANO
CRÍTICO DA FOLHA
Em 1996, semanas antes da inauguração do Museu de Arte Contemporânea de Niterói, Oscar Niemeyer foi visitar as obras e deparou-se com a rampa de acesso ao museu, uma de suas marcas importantes, atrapalhando a visão para o Pão de Açúcar.
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"A vida é mais importante do que a arquitetura", escreveu Oscar Niemeyer
"Na hora ele convenceu o prefeito a derrubar e construir outra, de forma que a visão do Rio fosse a melhor possível, o que foi a maior correria", relembra o colecionador João Sattamini, cuja coleção está no museu.
Com essa pequena história, revela-se, além do perfeccionismo do arquiteto, a busca pela integração entre arquitetura e seu contexto, ou seja, a criação de uma unidade, marca fundamental do estilo de Niemeyer.
Especialistas em arquitetura não gostam de falar que Niemeyer tenha um estilo, afinal, em mais de sete décadas de trabalho, a produção do arquiteto teve mudanças.
"Não se pode falar em um estilo, mas há elementos recorrentes, que caracterizam um vocabulário", diz Júlio Katinsky, arquiteto e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.
MARCAS
Esse vocabulário se revelara 46 anos antes, em uma de suas primeiras obras, a igreja de São Francisco, na Pampulha, em Belo Horizonte.
Nesse projeto, o arquiteto conseguiu criar uma espécie de manifesto de seu pensamento, revelando marcas que o acompanhariam na vida.
Mostra o uso do concreto em suas potencialidades máximas, a manifestação de curvas como elemento arquitetônico, a equalização entre estrutura e arquitetura, a forma de organização do espaço, criando uma harmonia entre construção e ambiente.
É o que leva a um equilíbrio de conjunto, unidade que caracteriza suas obras.
Na igreja da Pampulha, com suas cascas cilíndricas, revela-se outra característica fundamental: a criação de formas escultóricas, um reflexo da natureza brasileira.
"O Pão de Açúcar foi para Niemeyer o que a montanha Santa Vitória foi para Cézanne: imagem de permanência da natureza, uma presença formal e espiritual", escreve David Underwood em "Oscar Niemeyer e o Modernismo de Formas Livres no Brasil".
Também na Pampulha, principalmente na Casa de Baile e no Cassino, hoje um museu, há outra marca, aí em forma embrionária: o uso de colunas que integram a arquitetura ao seu entorno.
LE CORBUSIER
Esse uso não foi uma inovação de Niemeyer mas do franco-suíço Le Corbusier (1887-1965), que exerceu grande influência na arquitetura brasileira na década de 1930, com o projeto do Ministério da Educação e Saúde.
Obra de 1936, foi projetada por Lucio Costa e Niemeyer, com auxílio de Le Corbusier.
Entretanto, Niemeyer radicaliza o uso desse elemento, agregando ao suporte técnico uma composição estética.
"Já na Pampulha estão as marquises orgânicas. O uso das colunas vai ser original na construção do [antigo] Detran, no Ibirapuera, com a forma de "V" e depois ganha variedade em Brasília", diz o arquiteto Ricardo Ohtake, autor de "Oscar Niemeyer", da coleção Folha Explica, volume publicado em 2007.
A produção de Niemeyer tem por base um "caráter ideológico", segundo Katinsky.
"Ele sempre acreditou que a técnica poderia resolver os problemas da humanidade, por isso sempre esteve cercado dos engenheiros e calculistas mais sofisticados de seu tempo, o que acabou estendendo os limites de sua própria obra", afirma.
INEXEQUÍVEL
Um exemplo disso é a Universidade Mentouri, em Constantina, na Argélia.
Essa obra, construída em 1969 e apontada por Niemeyer, nos últimos anos de vida, como sua favorita, chegou a ser considerada inexequível por técnicos da França.
Mas foi "sem dificuldades, projetada e construída a partir do conhecimento e experiência dos brasileiros", nas palavras de José Carlos Süssekind, calculista dos principais projetos de Niemeyer nas últimas três décadas.
Seja vocabulário, gramática ou estilo, é impossível não se identificar uma construção de Niemeyer, quando se está de frente para uma, característica raramente alcançada por um arquiteto que projetou mais de 200 obras.
É o que o colocou, definitivamente, como uma das mais importantes figuras na história da arquitetura.
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