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Marcel Duchamp, pai do "ready-made", chocou até libertários
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NELSON AGUILAR
ESPECIAL PARA A FOLHA
Mais de mil obras foram expostas no Armory Show. Uma, porém, se destacou: "Nu Descendo a Escada nº 2", de Marcel Duchamp.
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A tela conseguira no ano anterior a façanha de ser excluída de um evento cuja norma era admitir todo tipo de arte, sem restrição, o Salão dos Independentes de Paris. O grupo cubista considerou a peça irreverente, provocadora e pediu-lhe o favor de retirá-la.
Tal reação num ninho de libertários se deveu ao fato de Duchamp ter escrito ao pé do quadro o título, o que dava a sensação de comentário sarcástico endereçado ao cubismo sério, adepto de naturezas-mortas e paisagens rigorosamente fatiadas e alérgico à situação circunstancial na qual o nu estava envolto.
Em Nova York, a obra cansou celeuma. Sua estrutura tubular em movimento diagonal chegou a ser definida por um jornalista como "uma explosão num depósito de telhas".
O sucesso fez Duchamp aceitar o convite de ir à América, onde passaria o período da Primeira Guerra e se implicaria na formação da Sociedade dos Artistas Independentes local, inspirada na parisiense e com o mesmo lema: nem júri nem premiações.
Em 1917, enviaria ao salão da congênere americana a célebre "Fonte", sanitário em louça, assinado R. Mutt, sofrendo nova recusa. A alegação do comitê de recepção de obras foi de que a inscrição estava mal preenchida; e assim foi contornada a necessidade de discutir a
aterrissagem do "ready-made" na cena artística nova-iorquina.
Atento à volatilidade da ética vanguardista, Duchamp fez fotografar a obra antes do envio e a exibiu na revista "The Blind Man" (o cego), lançada no dia da abertura do salão.
Trabalharia ainda no que hoje se denomina expografia ou, mais que isso, instalação, ao enredar, em 1942, o espaço expositivo da mostra "The First Papers of Surrealism" (nome que alude aos documentos apresentados por imigrantes que pleiteiam cidadania norte-americana) com uma milha de barbante, criando entre espectadores e obras uma teia que problematiza o acesso.
Duchamp desenvolveu sua produção graças ao apoio quase secreto de alguns colecionadores. Sua redescoberta só ocorreria através dos pioneiros da pop art nos anos 1950 e 1960.
Hoje é mais estudado que Leonardo da Vinci, quem lhe inspirou o "ready-made" assistido, um postal com a imagem da Mona Lisa e a interferência de traços que dão bigode e cavanhaque à musa, além de batizá-la com iniciais que, lidas em francês, lhe emprestam uma qualidade escabrosa ("L.H.O.O.Q.", 1919).
NELSON AGUILAR é professor de História da Arte na Unicamp e foi curador das bienais de São Paulo (1994 e 1996).
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