André Mehmari dilui popular e erudito em São Paulo

No texto de apresentação do recital que André Mehmari faz hoje, na Sala São Paulo, o compositor e historiador Cacá Machado assim define a linha de trabalho do pianista: "O clássico e o popular, o gênero e a forma, a composição, a citação e a interpretação se confundem e se recriam no gesto singular do artista".

Seguindo os apontamentos de Machado, imaginemos que, de fato, não deve ser nada fácil ser vendedor de uma loja de discos e saber de cabeça em qual prateleira se encontram as produções de Mehmari.

Como classificar o trabalho "Gismontipascoal", em que ele e o bandolinista Hamilton de Holanda interpretam temas de Egberto Gismonti e Hermeto Pascoal?

E "Triz", feito pelo pianista ao lado do violonista Chico Pinheiro e do cantor e compositor Sérgio Santos? E o mais recente, o duplo "Canteiro", em que Mehmari aparece surpreendentemente cantando?

	Eduardo Knapp/Folhapress
	O pianista Andre Mehmari

Considerado um dos instrumentistas e compositores que mais elasticidade conferiram à fronteira entre o popular e o erudito, Mehmari apresenta hoje um repertório calcado basicamente no cancioneiro brasileiro, com seus "arranjos em tempo real", como ele define.

"É um repertório exclusivo de piano solo. Arranjos específicos de canções que são verdadeiros clássicos da música brasileira. Também tenho feito muitas suítes em tempo real, pedindo sugestões ao público. Trazer esse repertório para a Sala São Paulo é uma coroação, uma sensação mais do que religiosa", explica o compositor.

Quando Mehmari fala de "clássicos da música brasileira", ele se refere a composições de Milton Nascimento ("Morro Velho" e "Ponta de Areia"), Chico Buarque ("Basta Um Dia") e Nelson Cavaquinho ("Mulher Sem Alma"), entre outros.

"A forma como eu organizo esses temas surge na hora. O amálgama vem da improvisação. Não existe algo pré-definido", completa o pianista sobre as 11 "suítes em tempo real".

Ainda entre os temas de brasileiros que ganham interpretações de Mehmari estão "Alegria, Alegria", de Caetano Veloso, "Tiro ao Álvaro", de Adoniran Barbosa, "Assum Preto", de Luiz Gonzaga, "As Rosas Não Falam", de Cartola, e "Chega de Saudade", de Tom Jobim e Vinicius de Moraes.

A antologia prossegue com as tabelinhas de Dorival Caymmi e Jorge Amado ("É Doce Morrer no Mar") e Noel Rosa e Vadico ("Feitio de Oração", "Feitiço da Vila" e "Conversa de Botequim").

"Esse repertório não é mais ou menos popular do que as canções de Schubert e Schumann. Aqui ainda existe preconceito quando a gente inclui uma canção de Caetano Veloso, Luiz Gonzaga ou Cartola", diz Arthur Nestrovski, diretor artístico da Osesp.

SEARA INSTRUMENTAL

O repertório do recital não será feito apenas de canções. Algumas da peças apresentadas por Mehmari nasceram como temas instrumentais.

Nesse grupo estão arranjos para "Famoso", "Reboliço" e "Escovado", três tangos brasileiros muito pouco executados de Ernesto Nazareth, compositor que completaria 150 anos em 2013.

Outros dois mestres do pianista, Hermeto Pascoal e Egberto Gismonti, também aparecem na lista instrumental com "O Farol que nos Guia", do primeiro, e "Lôro" e "Baião Malandro", do segundo. Além dessas, o pianista ainda toca "Round Midnight", de Thelonious Monk, e composições autorais.

ENCOMENDAS

Além de se apresentar na série "Recitais Osesp", Mehmari também tem composto sob encomenda da orquestra.

Em outubro, mês em que a Osesp faz sua turnê pela Europa, a Sala São Paulo receberá a estreia mundial de "Cantata Noturna", fantasia para piano, coro e orquestra, que será interpretada pela Sinfônica de Heliópolis, com regência do maestro Isaac Karabtchevsky.

"A Osesp considera um privilégio ter uma parceria regular com um músico como o André, nossa intenção é que em todas as temporadas ele esteja representado, ou tocando ou escrevendo algo", completa Nestrovski.

ANDRÉ MEHMARI
QUANDO hoje, às 21h
ONDE Sala São Paulo (pça. Júlio Prestes, 16; tel. 0/xx/11/ 3223-3966)
QUANTO de R$ 58 a R$ 67
CLASSIFICAÇÃO não informada