HQ traz cãezinhos fofos assolados por bruxas, zumbis e satanismo

ÉRICO ASSIS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

BEASTS OF BURDEN VOL. 1: RITUAIS ANIMAIS (bom) * * *
AUTORES Evan Dorkin e Jill Thompson
TRADUTORA Marília Toledo
EDITORA Pipoca & Nanquim
QUANTO R$ 69,90 (188 págs.)

É de se imaginar que uma história em quadrinhos estrelando cachorros e gatos falantes, pintados em aquarela vivaz, seja mais um bonito acréscimo às bibliotecas das crianças ou de adultos que gostam de histórias fofinhas. Não é bem o caso de "Beasts of Burden: Rituais Animais".

A coleção de contos dos norte-americanos Evan Dorkin (roteiros) e Jill Thompson (pinturas) estrela, sim, bichos de estimação falantes em cores bonitinhas. Mas, se a lua cheia, os esqueletos e as árvores tétricas da capa não deram o alerta, uma folheada vai revelar cãezinhos atropelados, zumbis, fantasmas e sangue.

Os protagonistas são os cães Campeão, Rex, Jack, Branquelo e Puguinho, mais o gato Órfão. Eles moram no subúrbio de Burden Hill, assolado por bruxas, rituais satânicos e, às vezes, chuvas de sapos. Embora enfrentem o sobrenatural, o clima não é das trapalhadas à la Scooby-Doo. O terror é para valer.

A primeira das oito histórias do volume dá o tom. O beagle Jack não consegue dormir na sua casinha. Reclama de frios repentinos, barulhos, cheiros estranhos.

Os amigos de quatro patas da vizinhança resolvem investigar. À moda "Poltergeist", encontram ossadas embaixo da casinha. São de uma collie, cujo espírito se ergue do chão e conta a história de quando se perdeu dos donos. Ela foi atropelada e enterrada viva.

A collie agradece aos colegas cães. "Agora estou livre para me unir à minha família. Dessa vez não vai será difícil encontra-los", ela diz, sem perceber que é um fantasma. E transforma-se em pontinhos de luz no céu noturno.

"Beasts of Burden" –o trocadilho do título perde-se na tradução, infelizmente– surgiu em histórias curtas para antologias de terror. O conceito e as tramas tiveram resultado inesperado com leitores e crítica: a série coleciona sete prêmios Eisner, o auge da indústria de HQ nos EUA, e um da National Cartoonists Society. Direitos para o cinema já foram negociados.

Dorkin, o roteirista, é mais conhecido por HQs de comédia, mas também escreve para desenhos animados de TV.

Thompson, que foi uma das artistas de destaque na franquia Sandman, de Neil Gaiman, tem criações próprias que tendem para o "fofo", como "Minha Madrinha Bruxa", também transformada em animação.

A colaboração dos dois foge da expectativa ao não tomar a rota Disney, com todas suas restrições de conteúdo família, e confiar num público que aceita um pouco mais de tensão, terror e morte. Para quem gosta destes elementos nos volumes finais e sombrios de "Harry Potter", "Burden" inclusive desfila um e outro encanto em latim.

Ao final, pode-se dizer que, sim, um dos apelos da HQ é a fofice de bichinhos de estimação pintados em aquarela. Por baixo da fofura, porém, os personagens –e suas histórias– têm carne, osso e sangue.

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