José Alberto Figueroa foge do comum. Suas fotografias mostram um lado da Revolução Cubana raramente visto na mídia. O mesmo ele faz na queda do Muro de Berlim, retratada sem celebração ou pessoas com martelos sob o maior símbolo da Guerra Fria, mas com um cenário vazio e sombrio.
A Caixa Cultural abre nesta quarta (10) uma retrospectiva dos 50 anos da carreira do fotógrafo cubano.
Nas 69 imagens, Figueroa brinca com contradições e mostra o seu ponto de vista a partir dos retratos. Na série sobre a queda do Muro de Berlim, vê-se o olhar do artista como um cubano que presencia o declínio do socialismo.
"Eu sabia que, após aquele momento, eu poderia passar daquela linha que dividia a Alemanha Ocidental da Oriental, mas algo me impedia", relembra o fotógrafo em entrevista à Folha.
MEDO
Ele estava em Nova York no dia do ataque às Torres Gêmeas em setembro de 2001. "Minha filha diz que eu tive medo", diz o artista se referindo a Cristina Figueroa responsável pela curadoria da mostra.
O fotógrafo acredita que algo importante aconteceu a partir daquele dia: os americanos teriam se sentido ameaçados pela primeira vez.
"Eles sempre se acham os melhores do mundo e que nada acontecerá com eles", diz o fotógrafo, destacando que a vida de um cubano é um medo constante.
"Refletia sobre qual seria o futuro de Cuba após o ataque", e lembra que, depois daquele dia, Cuba entrou para a lista de países considerados terroristas pelos EUA.
Assim como havia feito cerca de dez anos antes em Berlim, ele fotografou avenidas vazias de Nova York após o ataque que abalou o mundo.
"Ouvia de algumas pessoas que Fidel Castro seria um possível responsável pelo ataque", diz.
Apesar dos cliques em diversos momentos históricos, Figueroa revela que até hoje sente-se desconfortável ao clicar lugares que não estejam relacionados a Cuba.
"Não sei explicar direito isso, mas, por exemplo, tenho netos e família em Miami e até hoje quando viajo para lá não consigo fotografar nada."
FAMÍLIA
Em quatro seções, a mostra segue uma cronologia que começa com a Revolução Cubana e passa por fatos que a sucederam, como guerra de independência de Angola.
A primeira parte, chamada "Pessoas da História", mostra a década de 1960. À época, Figueroa estava no início da carreira, com 20 e poucos anos, e fotografava seus familiares e jovens cubanos.
Ele conta que, naquela época, fotograva para ter recordações, mas que "tudo em Cuba se torna político".
No início da Revolução, era necessário pedir autorização para deixar o país, e aqueles que o deixavam não eram mais considerados cubanos.
Ele passou a fotografar seus parentes a cada vez que alguém recebia permissão para deixar o país. O resultado foi uma sequência de fotos de uma grande família que foi se esvaziando até sobrarem apenas quatro pessoas.
Sua mãe foi a última a receber a permissão e se mudar para Miami. "Nos despedíamos das pessoas sem saber se as veríamos de novo. Vi minha mãe 13 anos depois que ela deixou Cuba e apenas por uma semana", conta ele.
UM AUTORRETRATO CUBANO
ONDE: Caixa Cultural, praça da Sé, 111, tel. (11) 3221-4400
QUANTO: entrada gratuita
QUANDO: de 10 de janeiro a 4 de março, ter. a dom. das 9 às 19h
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