Aos 70 anos, Egberto Gismonti interrompe reclusão criativa para se apresentar em SP

Para o músico e compositor, mercado fonográfico deveria se unir para superar crise

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São Paulo

“A vida hoje em dia, sabe como é, não fume, não coma bobagem e faça exercício todo dia e você tem a garantia de viver pelo menos feliz”, diz Egberto Gismonti. Com 70 anos recém-completos, o músico e compositor afirma querer viver “mais 20 ou 30 anos”.

Na última década, Gismonti tem dedicado seu tempo a escrever trilhas de filmes, balés e óperas –parte de sua atuação se dá como compositor residente da Nova Orquestra Filarmônica de Tóquio. 

Neste domingo (25), ele suspende a rotina imersiva de criação e se apresenta no Bourbon Street, em São Paulo.

Não haverá, diz ele, um repertório especial para a data. Mas alheio às redes sociais, as quais diz não frequentar de jeito algum, são momentos como esse, de tête-à-tête com o público e com amigos, que Gismonti mais preza.

O compositor Egberto Gismonti, no Parque Lage, no Rio de Janeiro
O compositor Egberto Gismonti, no Parque Lage, no Rio de Janeiro - Agência O Globo

“Sou muito antigo nisso”, diz sobre seu modo de manter contato. Gismonti não tem nem mesmo um site com informações básicas como datas de shows e lançamentos.

“Quando falo que não gosto de redes sociais, amigos contados às centenas, é porque eu gosto de gente.”

Ele conta que costuma ser anfitrião de amigos quando está em sua casa no Jardim Botânico, no Rio. “No mínimo uma vez por mês a gente faz o que chama de almoço dos famintos”, conta. “São 25 amigos que vem pra cá de manhã e saem daqui à noite ainda levando uma quentinha.”

Ao mesmo tempo em que vê, hoje, maior facilidade de relações “sem costumes horrorosos” de outrora, como maus-tratos a mulheres, Gismonti critica aspectos da mentalidade de novas gerações. 

“Tem muita gente que optou por um negócio que eu particularmente não gosto e do qual felizmente meus filhos pularam fora, que é achar que a adolescência vai até os 40 anos de idade.”

DIREITOS

Filho de um libanês e de uma italiana, Gismonti começou os estudos musicais cedo, aprendendo simultaneamente a tocar piano (o instrumento aristocrático pedido pelo pai) e violão (para as serenatas demandadas pela mãe).

Seu avô materno foi um compositor de valsas que se espalharam sob os nomes de outros artistas. A experiência pessoal motivou Gismonti a estudar para conquistar os direitos de comercialização de sua própria obra.

“É estranhíssimo pensar que todos os fonogramas dos Beatles foram comprados por Michael Jackson”, diz. “Ninguém da minha geração ou da geração anterior à minha pararam para pensar sobre isso.”

Gismonti afirma ter passado um ano e meio estudando normas judiciais com advogados antes de se reunir com executivos da gravadora britânica EMI, então detentora dos direitos de suas obras.

“A cada quinze dias tinha uma sabatina, eu sentava e nego lascava o cacete e arrancava o couro e eu quase matava os dois, mal sabia que eles tinham me preparado para o bombardeio inglês”, diz.

O compositor não só obteve os direitos de comercialização de seus fonogramas como também os da maioria das valsas de seu avô. “Consegui abrir uma porta que não melhora a vida de um compositor, mas determina que mais difícil será para ele ser ludibriado, roubado”, diz.

Sem contrariar as críticas de músicos à receita proveniente do streaming, Gismonti fala em possíveis proveitos desse modo de consumo musical e equipara a compra de discos, no passado, à de fonogramas atualmente.

Parte de sua produção está disponível na internet. Na plataforma Spotify, há 20 dos mais de 50 trabalhos que ele lançou ao longo da carreira. 

Para ele, todas as partes da indústria fonográfica deveriam negociar um acordo. “Parece coisa de sindicato reclamar que os patrões precisam pagar mais caro, eu entendo, mas vamos olhar o outro lado, que provavelmente está cheio de problema também”.

“O desejo de ser músico hoje está vinculado ao quanto ele ganha ou não, não penso assim. O que mais estimula é aprender coisas novas.”

 

EGBERTO GISMONTI
QUANDO dom. (25), às 20h30
ONDE Bourbon Street, r. dos Chanés, 127, tel. (11) 5095-6100
QUANTO 
de R$ 145 a R$ 185 em ingressorapido.com.br
CLASSIFICAÇÃO 18 anos ou 16 anos acompanhados dos pais

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