Descrição de chapéu

'Projeto Flórida' foca crianças num mundo de magia já envelhecida

Willem Dafoe tem boas chances de levar o Oscar de melhor ator coadjuvante

São Paulo

Projeto Flórida

  • Quando estreia nesta quinta (1º)
  • Produção EUA, 2017, 14 anos
  • Direção Sean Baker

Sentadas no chão, emolduradas por uma parede lilás, duas crianças ouvem, ao longe, uma terceira que chama seus nomes. "Scooty! Moonee!" Os apelos não são suficientes para demovê-las dali. Rindo, contentam-se em gritar um arrastado "o quê?".

Esse quadro inicial logo dá lugar a uma sequência de planos mais abertos, também compostos com minúcia, de modo a ressaltar as cores gritantes e o aspecto publicitário daquela porção ensolarada dos Estados Unidos.

Desde o início, o foco de "Projeto Flórida" está nas crianças que reinam livres, leves e soltas pelos espaços insólitos de um mundo cuja magia, já envelhecida, ainda encanta os pequenos.

Gravado num iPhone 5s, o filme anterior de Sean Baker, o independente "Tangerine" (2015), trazia um retrato afetivo de prostitutas transgênero que atuam em Hollywood.

Com orçamento maior, a mira do diretor agora é o "lado B" da Disney World, em Orlando, filmando num 35 mm que valoriza a exuberante paleta de cores dali.

A parede lilás, logo percebemos, pertence ao Magic Castle Inn, motel construído na periferia de Orlando para atrair turistas de poucas posses a caminho do parque.

Em "Projeto Flórida", o Magic Castle exerce, junto com o vizinho Futureland, papel central, numa dinâmica que lembra o conjunto habitacional visto em "Pelo Malo" (2013) ou, antes, na periferia romana de Pasolini, em "Mamma Roma" (1962).

Os motéis são hoje moradia perene para uma população empobrecida ""em cena hilária, uma brasileira em lua de mel quase pede o divórcio ao perceber que o marido lhes reservara um quarto "naquela favela".

A estratégia de filmagem confere aspecto documental ao enredo.

Na preparação, Sean Baker visitou o subúrbio de Orlando, entrevistando habitantes e trabalhadores. O Magic Castle e o Futureland se mantiveram em funcionamento durante as filmagens.

O elenco de não profissionais contribui para a autenticidade da produção. Com alguma experiência em comerciais, Brooklynn Prince faz rir e chorar na pele de uma levada Moonee, de seis anos.

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