Descrição de chapéu

'Pequena Grande Vida' cresce além da conta graças a cargas de drama social

Duração de 135 minutos parece ser maior que a trama pede

CÁSSIO STARLING CARLOS
São Paulo

PEQUENA GRANDE VIDA (Downsizing)

  • Quando em cartaz
  • Produção EUA, 2017, 14 anos
  • Direção Alexander Payne

Todo mundo sabe que a ficção científica é um gênero que inventa histórias mirabolantes sobre o futuro ou sobre realidades alternativas, tecnologias hipotéticas e mundos impossíveis.

Pequena Grande Vida
Cena do longa "Pequena Grande Vida", com Matt Damon - George Kraychyk/Divulgação

Porém o que essas fábulas muitas vezes mostram são características menos evidentes da nossa realidade.

Nesse sentido, "Pequena Grande Vida" retoma uma veia que a ficção especulativa cultivou desde suas origens, ao criticar o presente como se cogitasse a respeito de algum futuro.

Só que, em vez da fantasia ilimitada e do pessimismo na forma de distopias que predominam na atual ficção científica, o diretor e roteirista Alexander Payne prefere a sátira, modo de aliviar com humor o que parece sério.

Num mundo similar ao nosso, Paul Safranek (Matt Damon), um zé-ninguém cujas economias nunca dão para o gasto, decide aderir a um programa revolucionário de encolhimento físico.

A invenção de cientistas nórdicos amenizou o risco da catástrofe ambiental anunciada e, de quebra, facilitou a vida de quem nunca teve muito. As pessoas se apequenam, e suas economias não, possibilitando aos miniaturizados ter um padrão de conforto antes inconcebível.

Como toda utopia, Littleland também esconde suas fissuras, que logo se revelam, quando Safranek descobre, em outra escala, as imperfeições irrevogáveis da natureza humana.

A primeira parte, dedicada à transposição do tamanho, indica um grande filme, no qual a fantasia visual dialoga com o humor ácido que Payne consegue em seus momentos mais inspirados.

Mas à medida que Safranek passa do lugar de herói sem qualidades ao de consciência culpada, "Pequena Grande Vida" oscila e quase decepciona.

A tentação de Payne pela escrita espiralada, que distingue trabalhos como "Os Descendentes" (2011) ou "Nebraska" (2013), enfrenta aqui o problema contrário do acúmulo.

A duração de 135 minutos parece ser maior que a trama pede. E a saturação de mensagens cansa quando o filme troca a sátira futurista pelo drama social, ticando tópico por tópico da agenda politicamente correta.

É um problema com que o cinema hollywoodiano tem de lidar desde que as séries passaram a oferecer complexidade narrativa ao público de sofá, deixando para os filmes a função limitadora de entretenimento sensorial.

Payne pelo menos não evita o risco de elaborar, o que já não é pouco.

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