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Como escreveu o célebre crítico Brooks Atkinson em 1954, sobre a estreia da adaptação musical americana para a peça inglesa de J.M. Barrie, trata-se de espetáculo "enormemente divertido".
Na encenação brasileira, talvez até mais —com voos ameaçadores sobre a plateia, de um Peter Pan acrobático agora feito por um ator, não atriz, e com jacaré mecânico. Uma superprodução para os padrões paulistanos e até para a Broadway original.
E tanta engenhosidade espetacular, devida em parte à produtora Renata Borges, mais participativa que o costume no Brasil, é sobrepujada pela liberdade que encenação e elenco se permitem.
Atkinson, no New York Times, saudou em especial a "inventividade e delícia" com que o diretor e coreógrafo Jerome Robbins havia criado seus balés cômicos.
Pode-se afirmar o mesmo do diretor José Possi Neto e do coreógrafo Alonso Barros, que, a cada cena, parecem mais tomados pelo desejo de ombrear com o hoje lendário Robbins (1918-98).
O que fazem com Uga Uga, o segundo quadro do segundo ato, é talvez a melhor resposta contemporânea ao que o texto traz de mais datado —seu retrato preconceituoso dos índios americanos.
Não se escondeu nada, mas o delírio de movimentos que o Peter de Mateus Ribeiro e sobretudo a Tiger Lily de Carol Botelho comandam no palco, na cena bastante estendida e que parece envolver todo o elenco, é avassalador, empolgante.
O público começa a aplaudir no meio do quadro, as crianças gritam, como se quisessem todos entrar no ritual frenético, quase um show à parte, com coreografias e arranjos que remetem para todo lado, cumulativamente.
A cena não deve ser creditada só a Possi, Alonso e seus 32 atores, mas também ao diretor musical Carlos Bauzys, costurando uma apoteose como poucas vezes se assistiu no gênero, no país.
E tem muito mais, em sofisticação criativa local, neste "Peter Pan - O Musical da Broadway", na denominação usada no programa.
Daniel Boaventura parece ter ido buscar nos seus primórdios no teatro, em plena comédia musical baiana dos anos 1980 e 90, as chaves para fazer do Capitão Gancho a estrela cômica da noite.
Suas cenas são ansiadas pelo público não só pela celebridade que ele alcançou nos musicais brasileiros mas pelo que abraça de humor desabrido e popular, desde a primeira aparição.
Não é possível mensurar o quanto Boaventura e seu "sidekick", o agitado e engraçadíssimo Smee de Pedro Navarro, carregam da pantomima que inspirou J.M. Barrie ("panto", a tradicional comédia popular inglesa, não simplesmente mímica), mas ela está presente na dupla.
Navarro e Botelho são dois dos vários intérpretes de segundo plano ou do coro que parecem ascender por vezes à posição de protagonistas, dada a qualidade abundante no espetáculo, mas Bianca Tadini está sempre lá.
Mais que Peter, é sua Wendy que leva o público pela mão ou, melhor, pela voz, a mais aconchegante, afetuosa. Embala as crianças que se esforçam para chegar acordadas ao final das quase três horas da apresentação.
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