Descrição de chapéu Artes Cênicas

Peça 'Afogados' retrata insatisfações com a carreira e a idade adulta

Na obra, jovens conversam sobre decepções com os rumos tomados por suas vidas

Leonardo Neiva
São Paulo

É possível ser feliz sem trabalhar com aquilo que se ama. O segredo é viabilizar seus desejos de alguma forma, ainda que para isso seja necessário ter outro emprego para pagar as contas.

Essa é a opinião do ator Juan Alba (das novelas "Terra Nostra" e "O Outro Lado do Paraíso"), 52, que participou nesta segunda-feira (26) da leitura da peça "Afogados", do dramaturgo Ed Anderson, promovida pela Folha. O texto trata das contradições entre os desejos artísticos de seus protagonistas e a realidade de suas carreiras.

Na peça, três jovens de trinta e poucos anos conversam sobre as decepções com os rumos tomados por suas vidas, dentro de uma casa que vai se enchendo lentamente de água durante uma tempestade.

Sansão (Carcarah), paraplégico após um acidente, é impedido de tocar bateria em sua banda. Danilo (Gustavo Merighi) tenta escrever literatura enquanto trabalha durante meio período como bancário. Rúbia (Michelle Boesche), estudante de filosofia, repete frases de grandes pensadores ao mesmo tempo em que faz bico vestida como urso em ações promocionais de supermercado.

“Conheço pessoas que cantam até os 70 anos e nunca foram famosas. Mas cantam, realizaram seu desejo. A ansiedade pelo sucesso é que cria uma insatisfação com a carreira”, disse Alba durante conversa com o público após a apresentação.

O próprio autor do texto é exemplo disso. Anderson contou que entrou como educador no Núcleo Socioeducativo do Sesc-SP pensando tratar-se de um trabalho temporário, de onde partiria para uma carreira somente como dramaturgo.

"Neste mês, completam-se 20 anos que estou lá. Provavelmente vou ficar ainda mais dez. Agora estou aqui fazendo arte. Amanhã estarei lá batendo ponto."

Assunto: Leitura da peça de teatro "Afogados", promovida pela Folha
Leitura da peça de teatro "Afogados", promovida pela Folha - Leonardo Neiva/Folhapress

Sobre a peça, que teve na segunda-feira (26) sua primeira leitura pública, o autor afirmou que a ideia era questionar as coisas em que nos apoiamos para não nos afogarmos em meio às desilusões da vida.

“Mas se afogar pode não ser ruim, tem um aspecto de recomeço. Eles não percebem que já estão afogados em meio a uma série de coisas, decepções e relações”, afirmou.

De acordo com o diretor, Marcos Loureiro, a tempestade que alaga a casa espelha o turbilhão da vida adulta. Nesse meio, ele destacou a presença do mergulhador, personagem que perpassa silenciosamente as cenas e representa uma possibilidade de futuro.

“É o inconsciente e, ao mesmo tempo, a esperança. Enquanto está tudo desmoronando, esse cara deixa um colorido na cena... embora vocês não tenham visto isso”, disse, lembrando o fato de os espectadores estarem apenas ouvindo o texto, sem a encenação.

"A água está ali para limpar algo, tratar as feridas. Também é assim com a gente, encontramos maneiras de continuar apesar das decepções."

A peça deverá estrear no segundo semestre deste ano, mas ainda não há data definida.

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