Marco Aurélio Canônico
São Paulo

Ao centro do palco, cercado por três grandes cortinas formadas por longas correntes metálicas verticais, está uma cadeira de madeira e uma carteira como as de escola, com um cérebro de plástico em cima.

Entra um homem com ar professoral, cabelos brancos, terno cinza e chinelos. É David Byrne, 65, e ele veio dar uma aula.

Numa apresentação teatral, toda coreografada e cheia de canções de sua ex-banda, Talking Heads, o escocês radicado nos EUA fez um dos melhores shows da atual edição do Lollapalooza, na tarde deste sábado (24), no palco Onix.

Artista multifacetado, Byrne mostrou um show coeso —ainda que claramente reduzido de sua versão original—, performático e suingado, que divertiu mesmo a jovem plateia que o conhecia apenas vagamente.

O artista abriu sua apresentação com "Here", com o tal cérebro de plástico em mãos, valendo-se da letra da música (que fala de partes do músculo) como se fosse uma aula.

A percussiva "I Zimbra", com suas influências africanas, abriu a sequência de músicas do Talking Heads, seguida pela funky "Slippery People". Das 13 músicas do repertório, sete foram de sua ex-banda e quatro de seu disco mais recente, "American Utopia" (2018).

Acompanhado por 11 músicos, que se alternaram em inúmeros instrumentos (inclusive cuíca e berimbau) e ainda dançaram, Byrne colocou a plateia para acompanhar algumas de suas coreografias com as mãos e fez velhos fãs do Talking Heads cantarem "This Must Be the Place" e "Once in a Lifetime".

Na dançante "Toe Jam", parceria sua com Fatboy Slim para o projeto Brighton Port Authority, o brasileiro Davi Vieira, percussionista de sua banda, fez um rap em português, substituindo a versão original de Dizzie Rascal.

A essa altura, o cantor já estava descalço e com o público no bolso. Explicou didaticamente a origem de "Dancing Together", canção do musical "Here Lies Love", que ele criou baseado na vida de Imelda Marcos, mulher do ex-ditador das Filipinas Ferdinando Marcos.

O cantor encerrou a apresentação com mais duas dos Talking Heads —"The Great Curve" e, possivelmente a mais conhecida do show, "Burning Down the House".

Feliz com a boa recepção da plateia, deu um "Obrigado, thank you, boa noite" e partiu, ciente de que deixou uma boa lição sobre como fazer um show ir além do óbvio.

REPERTÓRIO DAVID BYRNE
"Here"
"I Zimbra"
"Slippery People"
"Everybody's Coming to my House"
"This Must Be the Place"
"Once in a Lifetime"
"Toe Jam"
"I Dance Like This"
"Every Day Is a Miracle"
"Blind"
"Dancing Together"
"The Great Curve"
"Burning Down the House"

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