Descrição de chapéu Livros

Ana Paula Maia ambienta no horror seu universo masculino e violento

'Enterre seus Mortos', sétimo romance da escritora, foi encomenda de um produtor de cinema

A escritora Ana Paula Maia
A escritora Ana Paula Maia - Rodolfo Buhrer/Divulgação
Fabiano Maisonnave
Curitiba

Enterre Seus Mortos

  • Preço R$34,90 (136 págs.)
  • Autor Ana Paula Maia
  • Editora Companhia das Letras

Nascida e criada em Nova Iguaçu (RJ), a escritora Ana Paula Maia há três anos chama Curitiba de lar. Foi na fria capital paranaense que escreveu seu mais recente romance, "Enterre Seus Mortos", da Companhia das Letras.

É o sétimo romance de Maia, 40, e o primeiro pela editora paulista. Como em obras anteriores, a história traz protagonistas masculinos imersos em ambientes de trabalho ou de confinamento degradantes moldados pela violência.

"Enterre seus Mortos" narra alguns dias na vida de dois funcionários de uma empresa encarregada de recolher cadáveres de animais, em um espaço e tempo que remete vagamente ao Brasil dos anos 1980.

Na trama, Edgar Wilson, "um homem simples que executa tarefas", e Tomás, um ex-padre excomungado pela Igreja Católica após cometer um assassinato, tentam dar destinação digna a dois cadáveres humanos, de remoção mais lenta que a dos animais.

Caso incomum no país, o livro foi uma encomenda de um produtor de cinema, Rodrigo Teixeira ("Me Chame pelo Seu Nome"), que tem os direitos de adaptação via RT Features. A ideia era um romance com características literárias da autora acrescidas de um clima mais próximo do horror.

"[Este] está impregnado nas relações humanas que, por mais que intentamos compreender, é sempre mais assustador do que imaginamos", diz Maia, em entrevista num café no Batel, bairro nobre de Curitiba, complementada por uma troca de emails.

Filha de pai negro e mãe branca, Maia está à vontade na cidade orgulhosa de sua matriz europeia.

"Quando pisei pela primeira vez em Curitiba, há uns dez anos, soube que viria morar aqui. Gosto da atmosfera. Escolhi viver aqui. Ao menos por enquanto."

Longe dos grandes centros, a escritora também se mantém afastada de debates sobre feminismo, relações raciais, política ou a atual crise de violência no seu estado natal.

"Sou uma escritora de ficção. Sou uma contadora de histórias", diz, acerca da opção de não ser um nome público.

Para Maia, o autor está limitado a escrever sobre aquilo que pode, e não sobre o que quer. Esse processo de aprendizado por anos é visto pela autora como filtro intelectual:

"A escrita é uma arte extremamente intimista. Chega a sufocar. Ao longo da vida uma pessoa reúne conhecimentos, pode aprender técnicas para se expressar melhor, escrever melhor, porém aquilo que define a qualidade de um autor certamente está na maneira como conta as histórias. Ou seja, o filtro pessoal, essa coisa que parece já nascer com ele."

Menos clara está a opção de retratar um universo masculino e violento: "Nunca soube o motivo. Mas atrai. Imagino que uma condição tão distante da minha me desperte interesse, porém é a pergunta que não consigo responder com clareza".

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.