Gustavo Fioratti
São Paulo

A comparação entre o filme "A Caça" (2012), de Thomas Vinterberg, e o nacional "Aos Teus Olhos", lançado nesta quinta (12) com direção de Carolina Jabor, é iminente, embora haja uma diferença crucial entre essas duas obras centradas em personagens acusados de pedofilia.

Em "A Caça", fica evidente que o protagonista não cometeu abuso sexual nenhum.

Já em "Aos Teus Olhos" dicas no roteiro dão abertura à hipótese de que Rubens (Daniel de Oliveira), um professor de natação, sente atração por crianças. E a cena em que ele de fato pode ter abusado de um de seus alunos é subtraída da história.

Como no filme de Vinterberg, a caça se repete. Após o aluno dizer aos pais que o professor o beijou, Rubens passa a ser perseguido, mesmo que não haja elementos que respaldem a acusação. O ódio se alastra com a ajuda de um aplicativo de troca de mensagens.

Adaptação da peça "O Princípio de Arquimedes", do espanhol Josep Maria Miró, o filme levanta a questão dos linchamentos virtuais, mais do que a pedofilia", diz Jabor. "Fizemos crescer a questão das redes sociais, que é menor na peça".

A indignação deixa o protagonista impossibilitado de exercer o direito de defesa. "Tudo acontece muito rapidamente. Falta a ele tempo e ferramentas para argumentar", diz a diretora.

Jabor conta que o interesse pelo tema tem relação direta com um episódio pessoal. Em 2013, seu pai, o cineasta Arnaldo Jabor, foi atacado nas redes por criticar manifestações iniciadas pelo Movimento Passe Livre, em São Paulo.

"Ele fez um comentário que não estava adequado para o tamanho do movimento que se formou em seguida. Foi bem nas primeiras horas", diz a filha. "Quando vi, estava viralizando na internet o comentário que ele fez, todo editado, já com insinuações de posturas políticas que ele não tem".

A diretora decidiu ir ao Facebook defender o pai e precisou fazê-lo até mesmo entre amigos seus.

Na semana passada, Jabor, a filha, também conversou com o bailarino e coreógrafo Wagner Schwartz, acusado de pedofilia no ano passado porque, durante performance em que se apresenta nu, uma criança encostou em seu pé.

"Ele disse que não conseguiu se defender, não teve espaço para isso. O que fazer nesse caso? Uma postagem? As pessoas estão violentas, não dá", diz.

Ciente deste tipo de hostilidade, Daniel de Oliveira diz que não pensou duas vezes antes de pegar o papel.

A diferença para "A Caça", enfim, desestabiliza: aberta a possibilidade de o protagonista ser de fato pedófilo, qual a legitimidade e a justiça neste mesmo linchamento?

Veja salas e horários de exibição.

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