Obras lançadas nestes primeiros meses de 2018 jogam luz sobre instituições e momentos da ditadura militar. São iniciativas que veem o regime em aspectos específicos.
Embora o movimento ainda se revele tímido diante da barafunda de episódios mal esclarecidos, as novidades chegam em boa hora.
São os casos do livro “Tanques e Togas: o STF e a Ditadura Militar” (ed. Companhia das Letras), de Felipe Recondo, e do documentário de Belisário Franca, “Soldados do Araguaia”, que esteve recentemente em cartaz nos cinemas de São Paulo.
O também documentário “Missão 115” se junta a essas obras de revisão histórica.
O atentado no Riocentro, em abril de 1981, é o tema do novo filme de Silvio Da-Rin, cujas primeiras exibições acontecem nesta quinta (12) na edição paulistana do festival É Tudo Verdade.
O principal acerto do diretor carioca é tomar como fio condutor os depoimentos de Claudio Guerra, que espantam pela clareza.
Ex-delegado do Dops (Departamento de Ordem Política e Social), com participação em ações como o Riocentro, ele se arrependeu da repressão truculenta aos opositores da ditadura militar.
“Inicialmente, [eu atuava] como executor de operações, tirando a vida de pessoas. Depois, ocultando cadáveres. Posteriormente, fui estrategista, preparando alguns atentados”, ele lembra.
Definida a transição para a democracia durante o governo Geisel (1974-1979), formaram-se grupos secretos, ligados direta ou indiretamente ao Exército. Pretendiam boicotar a abertura, prolongando o poder militar.
Entre o final dos anos 1970 e o início da década de 1980, essas organizações de extrema direita promoveram pelo menos 36 atentados no Rio.
Visavam instilar o pânico entre os brasileiros, que poderiam, quem sabe, aceitar a manutenção do regime como forma de conter a esquerda armada. Àquela altura, porém, o terrorismo era outro, era o terrorismo de Estado.
O atentado no Riocentro foi a ação desses agentes secretos com maior repercussão.
O sargento Guilherme Pereira do Rosário e o capitão Wilson Dias Machado tinham a missão de detonar bombas no pavilhão onde ocorria show do Dia do Trabalho.
Mas a explosão aconteceu antes da hora, dentro do carro Puma onde eles estavam, matando o sargento, como se vê na foto acima, e ferindo gravemente o capitão.
Houve tentativa oficial de atribuir a responsabilidade a grupos de esquerda, mas a farsa não colou.
“Missão 115” se enfraquece em passagens com excesso de depoimentos, alguns redundantes. Além disso, faz encenação canhestra de militar preparando bomba.
Falta, portanto, requinte à linguagem. Mas é inegável o valor histórico e simbólico do documentário, especialmente em ano eleitoral.
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