Filme sobre Edir Macedo é alvo de guerra de avaliações na internet

'Nada a Perder' concentra notas mínimas e máximas em sites brasileiros e estrangeiros

Petrônio Gontijo interpreta Edir Macedo no filme 'Nada a Perder'

Petrônio Gontijo interpreta Edir Macedo no filme 'Nada a Perder' Divulgação

Guilherme Genestreti
São Paulo

O filme “Nada a Perder”, cinebiografia autorizada sobre o bispo Edir Macedo, tem inspirado uma guerra de avaliações na internet.

Em sites que permitem aos seus usuários darem notas para os longas em cartaz, a produção tem arregimentado um número incomum de notas máximas e também uma torrente de notas mínimas.

No IMDb, mais importante banco de dados sobre audiovisual da internet, o filme dirigido por Alexandre Avancini está polarizado. Ali, coleciona mais de 16 mil notas dez (a maior) e quase 4 mil notas um (a pior). A soma de votos distribuídos entre as outras notas não chega a 400.

Como saldo, o filme acabou com uma média de 7,4 —próxima da de elogiados títulos nacionais como “Que Horas Ela Volta?” (7,8) e “Aquarius” (7,6).

A própria Igreja Universal, fundada por Macedo, usa seu perfil em redes sociais para incentivar que os espectadores avaliem o filme em sites como esses.“O filme mexeu com você? Deixe registrado nos sites que avaliam filmes”, sugere, em postagens que levam tanto ao estrangeiro IMDb quanto ao brasileiro AdoroCinema.

Mas a avalanche de notas ruins (19% do total) também “Nada a Perder” coloca em outro ranking do IMDb: a lista dos cem filmes do mundo todo com mais avaliações ruins. Está na 70ª posição, próximo da sci-fi “O Passageiro do Futuro 2” e do besteirol “A Saga Molusco”.

Procurada, a Universal afirma que isso “é um triste retrato da sociedade”. “Há uma grande maioria que respeita e ama o trabalho da Universal. Mas uma pequena minoria tem verdadeiro desprezo pela instituição”, informa, via assessoria de imprensa.

No site brasileiro AdoroCinema, a situação não é muito diferente. Ali, o filme reúne mais de 5.700 notas, das quais 95% são notas cinco (a máxima). Outras 43 (mais do que a soma do total de notas 1, 2 e 3) são só notas zero.

Matthieu Thibaudault, publisher do AdoroCinema, afirma que o número total de avaliações que o filme ganhou no site está “acima da média”.

“Acreditamos que estes números têm grande influência da campanha que a Igreja Universal realizou em sua página oficial do Facebook”, afirma.

No começo de abril, o filme se viu em meio a controvérsia envolvendo esse mesmo tema. Á época, ele somava 15 mil avaliações no IMDb, todas elas com a nota máxima. Isso o punha à frente de clássicos incontestáveis do cinema, como “O Poderoso Chefão” (nota 9,2) e “Um Estranho no Ninho” (nota 8,9).

Contudo, o site recebeu denúncias de que parte das notas estariam sendo dadas por robôs e que algumas resenhas eram falsas, segundo antecipou o colunista da Folha Mauricio Stycer em seu blog no UOL, empresa do Grupo Folha, que edita a Folha.

O site, então, tratou de apagar muitas das resenhas positivas, algo que a Universal chama de “preconceituoso”. Foi a partir dali que sua média começou a cair para os atuais 7,4 e que as notas mínimas passaram a pipocar.

A reportagem entrou em contato com o site IMDb, mas não obteve resposta até o encerramento desta edição.

Já o AdoroCinema informa que checou as contas dos usuários que avaliaram o filme e que “não se tratam de robôs, mas sim de novos cadastros de usuários reais”, segundo afirma Thibaudault.

A Igreja Universal nega que tenha feito uso de robôs para mobilizar tantas notas máximas em ambos os sites.

“Utilizamos nossa capacidade de mobilizar as pessoas para que o filme fosse assistido”, informa, por meio de nota. “A Universal não tem ‘robôs’, tem milhões de adeptos e seguidores nas redes sociais que existem e têm nome, e podem ser confrontados por qualquer veículo que queira confirmar.”

O site colaborativo brasileiro Filmow também traz um banco de dados sobre filmes e também permite aos usuários que os avaliem, mas ele não foi lembrado pelas postagens da Igreja Universal nas redes sociais.

Ali, a nota do filme é dois, numa escala que vai até cinco.

Em cartaz desde o último dia 29, “Nada a Perder” reconta a trajetória do bispo Edir Macedo, passando por fatos como a fundação da Universal, sua prisão e a aquisição da TV Record.


Leia a íntegra da resposta da Igreja Universal enviada à Folha.

 

"Com referência ao questionamento sobre as notas atribuídas ao filme “Nada a Perder” nos portais IMDb e AdoroCinema, a Igreja Universal do Reino de Deus lamenta que, novamente, o preconceito religioso dê o tom da cobertura da Folha de S.Paulo sobre o filme “Nada a Perder”.

Convidamos publicamente as pessoas que assistiram ao filme para que compartilhassem sua experiência em sites de avaliação. Ninguém pediu elogios ou notas altas, como comprova a postagem no Facebook do dia 4/4: https://www.facebook.com/IgrejaUniversal/posts/2068036796540844

Utilizamos nossa capacidade de mobilizar as pessoas para que o filme fosse assistido. A Universal não tem “robôs”, tem milhões de adeptos e seguidores nas redes sociais que existem e têm nome, e podem ser confrontados por qualquer veículo que queira confirmar.

Por outro lado, devemos questionar o que levou o IMDb, de modo preconceituoso, a apagar apenas as postagens positivas. Com que base poderiam fazer isso? Esta é uma explicação que a Imprensa deveria buscar.

Este episódio joga luz sobre outra questão: por que razão os adeptos da Universal continuam sendo ignorados? Não podem frequentar cinemas, avaliar filmes em sites colaborativos, comprar livros, ou mesmo distribuir ingressos de cinema voluntariamente. São vigiados, contados, censurados como se fossem consumidores de segunda classe.

Por fim, vale destacar a questão de concentração de notas 1 e 10 na avaliação do filme no IMDb. Na verdade, isso é um triste retrato da sociedade: há uma grande maioria que respeita e ama o trabalho da Universal. Mas uma pequena minoria tem verdadeiro desprezo pela instituição.

Não deveria haver lugar para tal em uma sociedade desenvolvida."

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