Descrição de chapéu
Cinema crítica de filmes

Apesar das piadas gastas, longa nacional sobre envelhecimento comove

'Antes que Eu Me Esqueça' aborda relação entre pai e filho, vividos por Paulo José e Danton Mello

Lúcia Monteiro

Antes que Eu Me Esqueça

  • Quando Estreia na quinta (24)
  • Classificação 14 anos
  • Elenco Danton Mello, Josá de Abreu, Mariana Lima
  • Produção Brasil, 2017
  • Direção Tiago Arakilian

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É interessante o meio-termo em que se instala "Antes que Eu Me Esqueça", entre a comédia voltada para o grande público e o drama de marcas mais autorais. Primeiro longa de ficção de Tiago Arakilian, o filme de narrativa transparente conta com nomes de peso no elenco.

Polidoro (José de Abreu) é um juiz aposentado de 80 anos, viúvo de uma inesquecível professora de piano. A filha, Bia (Letícia Isnar), acredita que chegou a hora de interditá-lo, pois já não tem condições de viver sozinho, e abre um processo para obter sua tutela. Paulo (Danton Mello), seu irmão, tem uma opinião diferente —mas como não vê o pai há décadas, não é capaz de julgar.

A situação provoca um rearranjo das relações familiares. Ao mesmo tempo, pai e filho, cada um de seu lado, vivem o que se pode chamar de novas aventuras. Paulo se cansa da posição frustrante de percussionista de orquestra e decide tentar uma vaga de pianista na Filarmônica. Polidoro torna-se sócio de uma boate de striptease da vizinhança, sempre às moscas.

Trata-se, sem dúvida, de uma constelação de elementos surpreendentes e inspiradores, capaz de manter a atenção do espectador ao longo da trama, que só não convence mais por causa das facilidades narrativas adotadas.

Abusa-se de imagens aéreas de Copacabana nas transições entre as sequências –já vistas, pouco acrescentam ao filme, mas isso que poderia ser considerado um mal menor. Mais grave é a construção dos personagens, que muito deixa a desejar. Com pouca profundidade e trejeitos caricatos, a maior parte deles recebe tratamento excessivamente estereotipado.

É o caso, principalmente, dos papéis femininos. A filha de Polidoro ostenta marcas de uma classe média que teme a pobreza e frequenta rodízios de pizza pouco sofisticados. É a custa de tiradas um tanto gastas que Joelma (Guta Stresser), garota de programa de sotaque nordestino alçada à gerente da boate, arranca risadas da plateia. A promotora retraída Maria Pia, vestida com camisas sóbrias, abotoadas até o pescoço, é um desperdício ao talento de Mariana Lima.

Mas, se o tom predominantemente sexista, assim como o uso de clichês ligados ao envelhecimento, à família burguesa e aos subalternos decepciona, isso não chega a prejudicar o outro polo do filme: uma comovente e bem contada narrativa da relação entre pai e filho que surge em meio ao processo de interdição de Polidoro, embalada pela sensibilidade musical que os une.

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