Gilberto Gil cancela show em Tel Aviv após Israel matar palestinos em Gaza

Artista não creditou decisão a massacre, mas mencionou 'apreensão' com 'momento sensível'

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São Paulo

Gilberto Gil anunciou nesta terça-feira (22) o cancelamento de um show que faria em Tel Aviv, em Israel, em 4 de julho.

O show reuniria Gil e amigos, como Mayra Andrade, Bem Gil (seu filho), Chiara Civello e Mestrinho, em torno do repertório do clássico disco "Refavela" (1977).

O cancelamento acontece menos de uma semana após o Exército israelense matar cerca de 60 palestinos durante um protesto na faixa de Gaza, em Israel.

Gilberto Gil durante apresentação no Bar Brahma, em São Paulo, em janeiro de 2017
Gilberto Gil durante apresentação no Bar Brahma, em São Paulo, em janeiro de 2017 - Joel Silva - 25.jan.2017/Folhapress

Nas semanas anteriores, conflitos haviam terminado com dezenas de mortes. No total, desde março mais de cem palestinos foram mortos na região.

O país vem sendo alvo de críticas de outros países e de entidades de defesa dos direitos humanos por ter usado táticas letais durante confrontos com palestinos na fronteira com Gaza. O país alega a necessidade de defender sua divisa.

Embora não tenha creditado a decisão de cancelar viagem e show aos incidentes, a produtora responsável pelo show do artista citou “apreensão” com “um momento sensível” que Israel atravessa e pediu compreensão a um assunto “que também é delicado para nós”.

O comunicado à imprensa afirma ainda que Gil ama Israel e que “haverá outras oportunidades” em “tempos melhores”.

A decisão de Gil foi elogiada pelo movimento BDS, que significa “boicote, Desinvestimento e Sanções”. A campanha defende o boicote econômico, acadêmico, cultural e político a Israel para pressionar pelo pelo fim da ocupação de territórios palestinos.

“Recebemos calorosamente o cancelamento de Gilberto Gil de concerto que apresentaria em Tel Aviv, o centro do regime de ocupação e apartheid de Israel”, afirmou Hind Awwad, líder de um grupo palestino que compõe o Comitê Nacional do BDS.

No entendimento dos palestinos, Gil pode ter agido também por pressão de seus fãs.

“Agradecemos aos admiradores de Gil no Brasil e na América Latina, que, com seu suporte aos direitos humanos dos palestinos e sua indignação com relação ao último massacre de Israel em Gaza, parecem ter desempenhado um papel decisivo sobre a decisão do artista.”

A decisão de Gil também foi elogiada por bandas e artistas, como o grupo americano Portishead, e também por entidades que defendem o boicote a Israel em decorrência das ocupações e das ações militares do país.

Autoridades de Israel ainda não se manifestaram a respeito, mas a imprensa do país mencionou o cancelamento como “uma vitória do BDS”.

PRECEDENTES

Em 2015, Gil e Caetano Veloso, então em turnê conjunta para celebrar os 50 anos de carreira dos dois, foram criticados por fazerem show em Tel Aviv, em Israel —à época, fazia um ano que uma ofensiva militar israelense havia deixado mais de 2.000 mortos em Gaza.

Então, fãs e movimentos sociais chegaram a reunir mais de 5.000 assinaturas em abaixo-assinados sob o título “Tropicália Não Combina com Apartheid”.

Mesmo sob críticas e apelos de colegas, como o músico britânico Roger Waters, ex-Pink Floyd, para que boicotassem Israel, Gil e Caetano mantiveram a agenda e realizaram o espetáculo. Na oportunidade, eles criticaram a ocupação dos territórios palestinos pelos israelenses.

Nesta terça (22), Caetano ponderou sobre a decisão de Gil —ressaltando, antes, que ainda não havia conversado com o amigo.

"Penso que existe um respeito à seriedade da questão, mas não é só uma atitude política; a gente deve levar em consideração a economia emocional da pessoa. Você fazer uma viagem aos 75 anos, quase 76, para o Oriente Médio e ficar dias sob tensão e com sentimentos complexos...".

À pergunta da reportagem sobre se em 2015 teria sido mais fácil enfrentar críticas e conflitos internos pois ambos tinham um ao outro como esteio, o baiano concordou.

No mundo, outros artistas são frequentemente implicados com relação ao conflito entre Israel e Palestina. A atriz americana Natalie Portman, por exemplo, que nasceu em Israel e cresceu nos EUA, recusou-se a participar de uma cerimônia em Israel para receber um prêmio de US$ 1 milhão devido a “eventos recentes” no país.

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