Verdadeiros jornalistas conseguem o que querem, dizia Wolfe

Em 1999, escritor trabalhava em um romance sobre como se comportavam os universitários

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Tom Wolfe, fotografado em 2012 - Fernando Leon/AFP
Cassiano Elek Machado
São Paulo

Devidamente trajado de Tom Wolfe, terno branco e sapato bicolor, Tom Wolfe ocupava a melhor mesa daquele cenário bastante Tom Wolfe. Sobre sua cabeça, um vistoso lustre de cristal, dourado, iluminava as paredes cobertas de pinturas de época —cenas cotidianas de grandes impérios do passado. Sobre cada uma das mesas equilibravam-se "flutes" de champanhe gelada. Celebrava-se.

Ele finalmente aceitara o convite para encontrar seus editores estrangeiros. Donos de editoras e diretores editoriais de 12 países confluíam para um brunch no hotel mais elegante de Frankfurt, o Hessischer Hof.

Tanto auê não era fortuito. Nos anos 1980, Tom Wolfe protagonizara o último dos grandiosos leilões de direitos autorais da era romântica da Feira de Frankfurt: seu romance "Fogueira das Vaidades" fora alvo das mais acirradas esgrimas. Mais de uma década depois, ele estava de volta pela primeira vez à cidade alemã.

Naquela altura, o homem que ajudara a moldar o jornalismo moderno americano não estava para muitas conversas com seus pares. Como repórter da Folha, eu havia tido quatro pedidos de entrevista recusados.

Mas num corredor da Feira de Frankfurt encontrei Paulo Rocco, dono da editora que leva seu sobrenome. Ele estava contente porque encontraria Tom Wolfe no café da manhã com editoras do mundo todo. Iria com sua então diretora editorial Vivian Wyler.

Num passe de mágica, assumi o crachá da saudosa Vivian (este nome, em inglês, pode ser também de homem).

O café da manhã corria sem grandes sobressaltos. Quando um dos convivas ao lado do autor levantou-se para ir embora juntei-me a ele e comentei que, embora trabalhasse para a Rocco (não era verdade) tinha interesse em fazer algumas perguntas sobre ele.

Wolfe ajeitou o topete grisalho, ou assim recordo, deu uma piscadela e comentou: "Ah, você é jornalista? Como entrou aqui?". E emendou: "Os jornalistas sempre me criticam porque eu não tenho falado com eles. Eu sempre respondo que os verdadeiros jornalistas sempre conseguem o que querem. Pode perguntar".

À época, em 1999, revelou que escreveria um romance sobre como se comportavam os universitários ("Eu Sou Charlotte Simmons" sairia cinco anos depois). Estava interessado no que chamava de "A Sedução dos Sete Minutos".

Antigamente, dizia, cortejar e seduzir uma mulher levava meses. Agora em minutos já poderiam estar enroscados, "dançando algo como uma lambada", disse, pronunciando "lambéda", antes de checar "Ainda existe lambada?"

Cassiano Elek Machado é jornalista e diretor editorial da Planeta Brasil
 

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