Vivi o delírio de paz com a internet, mas aconteceu o contrário, diz Fernanda Torres

Atriz e Vik Muniz iniciaram, na quarta (16), série de conferências Fronteiras do Pensamento

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São Paulo

“Estamos tão fechados em nichos que as fronteiras, em vez de se desfazerem [como se imaginava que aconteceria com a internet], ganharam poder”, afirmou Fernanda Torres nesta quarta (16).
 
Ao lado do artista plástico Vik Muniz, a atriz e escritora conduziu a primeira conferência deste ano em São Paulo da série Fronteiras do Pensamento. Os convidados de 2018 têm como tema O Mundo em Desacordo – Democracia e Guerras Culturais.
 
Para Fernanda Torres, também colunista da Folha, divisões de ordens diversas dominam os tempos atuais no Brasil e no mundo. “Cheguei a viver esse delírio de paz romana com a internet. Mas o contrário aconteceu.”
 
Nesse contexto, segundo ela, a sobrevivência do artista é mais difícil porque a arte é justamente “o lugar entre as fronteiras”, associada à dúvida, à contradição, ao inexplicável.
 
A atriz citou a mais célebre figura criada por Shakespeare como um contraponto ao que vivemos hoje. “Hamlet é o personagem da dúvida por excelência”, disse. “E eu continuo agarrada à dúvida.”

Se a atriz recorreu ao mais influente dramaturgo da história, Vik Muniz mencionou Leonardo da Vinci, um dos maiores nomes do Renascimento. Para o pintor italiano do século 15, “arte é coisa mental”.

Em uma reelaboração desse conceito, Vik vê a arte como “interface entre a consciência e a matéria”. É a definição que mais lhe agrada, embora ele admita que também caiba para a ciência e a religião.

Ao longo dos séculos, disse o artista, a humanidade “foi polindo essa parede de ignorância”, que separa o mundo interno (a consciência) do externo (a matéria). Chegou, enfim, a uma “membrana fina”, que é a fotografia.

Mas essa membrana se tornou a tal ponto delgada que se rompeu. Foi a metáfora usada por Vik Muniz para refletir sobre a enorme difusão das imagens digitais, que podem ser facilmente manipuladas.

“A imagem digital acabou com a ideia tradicional de fotografia, mas não colocou nada relevante no lugar. A gente não tem mais como confiar na imagem”, afirmou.

Para o artista, só uma educação que inclua o que ele chama de “alfabetização visual e midiática” é capaz de oferecer as ferramentas para viver nesta nova realidade.

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