Descrição de chapéu

Em 'O Amante Duplo', François Ozon se repete e irrita

Diretor, que já foi promessa do cinema francês, tratou de duplicidade em seu filme anterior

Inácio Araujo

O Amante Duplo (L’Amant Double)

  • Quando Estreia nesta quinta (21)
  • Classificação 18 anos
  • Elenco Marine Vacth, Jérémie Renier, Jacqueline Bisset, Myriam Boyer, Benoît Giros
  • Produção França/Bélgica, 2017
  • Direção François Ozon

Ao ver o filme de François Ozon, vários outros acorrem: existe Cronenberg ali ("Gêmeos", mas não só), existe "Sangue de Pantera" com seus gatos, a atriz lembra a Mia Farrow de "O Bebê de Rosemary". Etc. Até do velho "O Estudante de Praga" dá para lembrar.

O fato é que, para além da cinefilia, faz algum tempo que Ozon anda preocupado com duplos. Era disso que, a rigor, travava seu filme anterior, "Frantz", sobre dois soldados, um francês e um alemão, da Primeira Guerra e a estranha aproximação entre eles.

Era fraco, mas não irritante. "O Amante Duplo" tende, não raro, ao francamente irritante. Aqui tudo começa por uma moça que procura um terapeuta em vista das dores no ventre que a afligem. Algumas sessões depois estão apaixonados um pelo outro. Pouco depois já estão com casa montada.

Mas a moça logo se incomoda com alguns mistérios que julga existir na vida do homem e passa a ir atrás de seus segredos. Ele os tem. Ela também.

O fato de gostar de gatos não é um, mas entrará na história, tanto quanto o fato de o terapeuta ter um irmão gêmeo, também terapeuta, idêntico a ele (embora de temperamento bem diferente).

Isso importa tanto quanto o fato de a existência do gêmeo ser em larga medida (ou em inúmeros momentos) não mais do que uma projeção da mente da moça.

Ela tem os seus problemas psíquicos. Talvez os resolva após o fim do filme ou da terapia. O filme sofre por falta de foco, por excesso de pretensão, por excesso de falsas premissas e falsos problemas.

Por ora o que é certo é que o filme de François Ozon não leva basicamente a parte alguma, embora ao diretor não falte competência (nem a seus atores, em especial Jérémie Renier, que faz Paul/Louis, e, atenção, Jacqueline Bisset).

Ozon, que já foi uma promessa do cinema francês, tem um pé na canoa do cinema comercial e outro na do cinema mais intelectual. Não é impossível, eventualmente é desejável que isso aconteça.

Cada vez mais, no entanto, e como aqui, parece que cada canoa vai para um lado e deixa o cineasta ex-promissor no meio do caminho.

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