A peça "A Procura de Emprego", escrita pelo francês Michel Vinaver no início da década de 1970, é protagonizada por Fage, um diretor de vendas que foi descartado pelo mundo do trabalho e acumula fracassos ao tentar se reintegrar.
Sempre atual, o assunto aparece aqui também na organização estrutural da peça. As cenas são marcadas por intensa fragmentação: diálogos recortados e entrecruzados, situações justapostas, fluxo desconcertante de falas que mal conseguimos identificar a quem se dirigem.
É como se a sensação de vertigem causada pela forma estilhaçada do texto espelhasse um mundo cada vez mais estranho e hostil ao protagonista.
A montagem dirigida por Rubens Rewald em conjunto com Jean-Claude Bernardet se entusiasma por esse procedimento formal do texto e busca evidenciá-lo sem cair na armadilha de tentar completar as elipses da peça.
Nesse sentido, o elenco consegue uma dinâmica veloz e interessante para lidar com a sobreposição de falas. Mas, por outro lado, a concretude de cada pequeno fragmento, sua verdade atomizada, as relações entre as personagens e, principalmente, as suas correlações sociais e históricas se tornam cada vez mais indiferentes no decorrer da cena. Tudo soa mais ou menos igual.
A proposta espacial da montagem amplifica essa sensação. Os atores estão confinados num pequeno quadrado demarcado com fita no chão. Eles se movem de um lado para o outro e não saem do lugar. O confinamento iguala todos eles. E tal indistinção negligencia o tema do mundo do trabalho em prol de velhas questões existenciais como a incomunicabilidade, a solidão contemporânea, a vida repetitiva e sem sentido etc.
Características específicas e contraditórias que posicionam socialmente as personagens na peça de Vinaver tornam-se somente estereótipos no espetáculo atual. A filha Nathalie (Bianca Lopresti), uma jovem de classe média vivendo o rescaldo de 1968, aparece apenas como um garota de ideias lunáticas. Ou seja, a especificidade histórica da personagem é deixada de lado em prol da paródia de uma adolescência idealista e egocêntrica.
De modo geral, as referências contextuais à França da década de 1970 não são desdobradas tampouco adaptadas para a atualidade local. Nesse sentido, é sutil e quase imperceptível a posição autoral dos criadores do espetáculo.
A ênfase no mecanismo formal e no comentário existencial e universalista da montagem dilui a característica crítica do debate ligado ao mundo do trabalho. Muito embora a peça de Vinaver já apresente tal tendência à abstração, o espetáculo remove de vez o lastro histórico e social da dramaturgia fragmentada.
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