Descrição de chapéu

Longa delineia a passagem do tempo, mas não se limita à contemplação nostálgica

'Uma Casa à Beira-Mar' é o novo filme do diretor francês Robert Guédiguian

Cássio Starling Carlos

Uma Casa à Beira-Mar (La Villa)

  • Quando Estreia nesta quinta (12)
  • Classificação 12 anos
  • Elenco Ariane Ascaride, Jean-Pierre Darroussin, Gérard Meylan, Anaïs Demoustier
  • Produção França, 2017
  • Direção Robert Guédiguian

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Um senhor contempla da varanda um maravilhoso cenário mediterrâneo. As primeiras imagens combinadas com o título "Uma Casa à Beira-Mar" sugerem um daqueles filmes turísticos feitos para quem não tem dinheiro para viajar.

O colapso em seguida anula a expectativa de que a beleza exista para amenizar a angústia de cada um. O título original ("La Villa"), assim como o equivalente brasileiro, remete a um lugar bonito por natureza. Mas é a humanidade que o habita o verdadeiro objeto de contemplação do novo longa de Robert Guédiguian.

A casa e os limites físicos do vilarejo funcionam como espaço teatral, um ponto de encontro entre Tchékhov e Brecht, que Guédiguian evoca para explicitar o vínculo dos dramas interiores com as forças que vêm de fora, a inevitável interseção de todo eu por todo o mundo.

Do outro lado da encantadora enseada vê-se Marselha, cidade natal do diretor francês e onde se passam quase todos os 20 longas de sua carreira coerente e consistente.

No centro do drama, Ariane Ascaride, Jean-Pierre Darroussin e Gérard Meylan, atores que trabalham juntos nos filmes de Guédiguian desde 1986, reencontram-se em torno dos dilemas de uma família.

O sentimento de familiaridade que exala dessas recorrências não serve apenas para afirmar um estilo autoral. Aqui, ele também permite delinear os efeitos da passagem do tempo, que carrega a memória e seus traumas, a nostalgia e seu lirismo e a dúvida inerente às transformações.

Não é só o trem que transita todo dia acima da casa que pontua a passagem do tempo. Esta é reiterada no preto e banco das fotos antigas, nos flashbacks psicológicos da personagem de Ascaride e nas imagens granuladas de "Ki lo Sa?" (1986), em que vemos os mesmos protagonistas na juventude.

Mas não estamos diante de mais um exemplo de contemplação nostálgica, de lamento sobre a degradação do presente. Sem perder de vista o que passou, o envelhecimento e as perdas, os personagens se deparam com o futuro na figura de outro triângulo de irmãos que os reverberam.

A comunicação que se cria entre eles na lindíssima cena final demonstra como o cinema ainda pode transmitir mensagens sem precisar ser utilizado como sala de aula.

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