Descrição de chapéu

Só o início da sequência de 'Sicário' é inspirado pela força do original

Com mudança de diretor, a regra de estilizar cada plano serve para embelezar o horror

Sicário: Dia do Soldado (Sicario: Day of the Soldado)

  • Quando Em cartaz
  • Classificação 16 anos
  • Elenco Benicio del Toro, Josh Brolin, Isabela Moner
  • Produção EUA/Itália, 2018
  • Direção Stefano Sollima

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O lançamento mundial de "Sicário: Dia do Soldado" não poderia ter sido mais bem calculado. O efeito ainda recente das imagens de Donald trancando filhos de imigrantes em jaulas e Ivana avisando que não está nem aí emprestam ao filme uma urgência, uma impressão de realidade que valoriza a proposta.

Os primeiros e intensos minutos do longa nos mergulham numa teia subterrânea que conecta ataques de homens-bomba, cartéis mexicanos e piratas somalis. A cumplicidade desses múltiplos ramos do crime justifica a retaliação e logo Matt Graver (Josh Brolin) entra em cena alertando que "trabalho sujo" é condição para "limpeza total".

A associação do terrorismo com o islamismo, contudo, só serve para as duas sequências de impacto que abrem o longa. O choque do terror some para dar lugar a outro risco, mais imediato e que serve de porta de entrada para os inimigos da América: a imigração.

Não adianta construir muros, pois o inimigo já está dentro, na figura do imigrante legalizado, um garoto de origem latina que tem passaporte e pode transitar de lá pra cá. Para não replicar o discurso oficial racista, o filme insere uma breve participação de uma americana branca e loira como demonstração de que a lógica do crime não se restringe à cor da pele.

No primeiro "Sicario", a personagem de Emily Blunt mantinha uma relação ambígua com as formas normalizadas da violência. Aqui, o personagem sorumbático de Benicio del Toro se encarrega das dubiedades, mas está imerso demais na trama para funcionar como consciência. Sem esse tipo de perspectiva exterior, o novo filme depende mais da ação e da sucessão mecânica de mortes sem em troca proporcionar desconforto.

O diretor italiano Stefano Sollima assume o posto de Denis Villeneuve e segue a regra de estilizar cada plano. Mas, enquanto a estetização do canadense servia para acentuar o estranhamento, a tendência do italiano é embelezar o horror.

Além desses desequilíbrios na comparação, o roteiro do celebrado Taylor Sheridan abusa da nossa crença ao inserir reviravoltas forçadas e um final aberto. Assim, o filme que começa inspirado pela força do original termina formatado para se tornar uma franquia igual a tantas.

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