Um ano após retomar a parceria com o Sesc e tentar recobrar o fôlego de outrora, o FIT - Festival Internacional de Teatro de Rio Preto inicia nesta quinta (5) sua 18ª edição internacional refletindo o atual discurso da cena teatral: o de dar voz a minorias.
"Essa questão do lugar de fala tem tido muito espaço nas produções", afirma Sérgio Luís Venit de Oliveira, que divide a curadoria da mostra de São José do Rio Preto, cidade no interior paulista, com Janaina Leite e Marcos Bulhões.
"E outro vetor que a gente percebeu nas criações de hoje é o da questão formal, uma linguagem fora do padrão dramático e mais alinhada a uma ideia de performance."
Nessa linha, estão por exemplo "Preto", da Companhia Brasileira de Teatro, que discute nossa sociedade racista, e "Guanabara Canibal", da carioca Aquela Companhia, que faz um paralelo entre a violência do Rio e seu nascimento conflituoso, no século 16, com o extermínio de índios.
Também tocando o preconceito, no caso com o corpo da mulher negra, vem o solo coreográfico "Entrelinhas", de Jaqueline Elesbão. Já o performer Maikon K se inspira no pensador francês Georges Bataille para seu "O Ânus Solar", sobre aquilo que rejeitamos, e a Selvática Ações Artísticas debate corpo e gêneros em "Cabaret Macchina".
Além dos 20 espetáculos, nacionais e estrangeiros, também deu-se mais atenção à atividades paralelas, em especial relativas à formação.
Haverá, por exemplo, acompanhamento de processos, ou seja, será possível ver etapas de um trabalho em construção. Outra atividade se volta exercícios de crítica teatral.
Nas mesas e debates, retornam as questões do negro, da mulher, de indígenas e transexuais. "É uma discussão não só do teatro, mas que atravessa as questões do teatro", diz Jorge Vermelho, coordenador executivo do FIT. "Queremos que o festival seja um raio-X dessas questões, e a programação reverbera isso."
A mostra rio-pretense já nasceu refletindo questões de seu tempo. Surgiu em 1969, na onda das revoluções culturais e sociais do ano anterior. Fincou-se como evento de referência e abriu espaço para nomes hoje consagrados, como Ulysses Cruz e Gabriel Villela.
"Ele foi um território que realmente apresentou muitas pessoas para o cenário brasileiro", lembra Vermelho, que é natural da cidade e também diretor da companhia rio-pretense Azul Celeste.
Em 2001, o FIT começou uma parceria com o Sesc, que o tornou um evento internacional e ainda tinha a instituição como coprodutora de peças.
A associação foi desfeita há quatro anos, por desacordos entre a prefeitura e a instituição em relação à produção do evento. O FIT enxugou bastante e perdeu a importância.
A edição passada marcou a volta do Sesc, depois de mudanças de gestão na prefeitura. Mas foi feita à pressas, em pouco mais de dois meses. "Foi um pouco mais tímida, pelo tempo e pelos recursos", afirma Venit de Oliveira.
O orçamento ficou em torno de R$ 1,5 milhão, distante das verbas que o festival já teve. Em 2008, quando teve patrocinadores como a Petrobras, chegou a R$ 2,4 milhões.
Neste ano, a verba (que ainda não foi fechada) deve superar em pouco a do ano passado, diz Pedro Ganga, secretário de Cultura de Rio Preto. A maior parte, algo como R$ 1,2 milhão, vem do Sesc e o restante, que deve chegar a R$ 500 mil, de acordo com o secretário, da prefeitura.
Para voltar a crescer, o festival busca novas e velhas parcerias, como a própria Petrobras. No próximo ano, quando completa seu cinquentenário, deve ter uma edição comemorativa e mais fortalecida, conta Venit de Oliveira.
Destaques da mostra
Luiz Lua Gonzaga
O Grupo Magiluth (PE) homenageia o rei do baião
O Ânus Solar
Maikon K parte do ânus para debater aquilo que rejeitamos
Guanabara Canibal
Aquela Cia. fala da violência do Rio e a partir de sua formação
Isto É Um Negro?
Texto de José Fernando Peixoto de Azevedo debate o racismo
Dueto para Um
Reetta Honkakoski (Finlândia) aborda o equilíbrio e a dependência nas relações
Tudo que Está ao Meu Lado
O argentino Fernando Rubio convido o público a se sentar numa cama e ouvir histórias
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