Não é fácil conciliar drama e comédia. Um registro pode abafar o outro ou, o que é pior, nenhum deles prevalecer, tornando o filme anódino.
Em “A Outra História do Mundo”, em cartaz atualmente, o diretor uruguaio Guillermo Casanova consegue a proeza de conduzir uma narrativa que tira proveito do humor sem dissolver a tensão.
Não é o que acontece com “Como É Cruel Viver Assim”. O filme da brasileira Julia Rezende se propõe a transitar pelos dois gêneros, mas não convence em nenhum deles.
Desempregado, Vladimir (Marcelo Valle) está desesperado para ganhar dinheiro a fim de agradar à mulher, Clívia (Fabiula Nascimento), obcecada por uma festa de casamento. Eles se mantêm com uma pequena lavandeira administrada por ela.
O casal se junta aos amigos Regina (Debora Lamm) e Primo (Silvio Guindane), e o quarteto começa a planejar o sequestro de um milionário, ex-patrão de Regina.
De modo geral, as dificuldades enfrentadas pelos personagens centrais não são plenamente desenvolvidas para a construção de uma carga dramática. Talvez seja efeito do tom farsesco que parece estar sempre a rondá-los. Melhor seria então se entregar de vez à comédia.
O problema é que as cenas supostamente divertidas não empolgam, devido à fragilidade do roteiro, entre outras razões. As discussões entre os amigos Vladimir e Primo são um recurso ineficaz —e ainda assim, é usado em excesso.
Surpreende que essa busca pelo humor seja mal-sucedida. Embora jovem (32 anos), Julia Rezende já acumula certa experiência na direção de comédias, como “Meu Passado me Condena” 1 e 2.
Ator de talento, como visto em filmes tais quais “Como Nascem os Anjos” (1996) e “De Passagem” (2003), Guindane erra o tom desta vez. Primo, seu personagem, é menos um jovem problemático, e mais uma caricatura.
Há o que se salva em “Como É Cruel Viver Assim”, como a interpretação de um extravagante chefão do crime por Otavio Augusto.
O filme também acerta ao escapar do binômio zona sul-favela e adotar um bairro de classe média baixa carioca como pano de fundo.
É pouco, no entanto, para compensar a frouxidão do eixo principal da trama.
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