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Brasileiro radicado no Reino Unido, Henrique Goldman ficou conhecido nos dois países em 2009, quando filmou o drama biográfico "Jean Charles".
Com toques de ficção, o filme reconstituiu os últimos meses da vida do eletricista mineiro morto pela polícia de Londres, que o confundiu com um terrorista.
Foi um dos bons filmes brasileiros daquele ano, embora fosse prejudicado pelo descompasso entre a atuação vigorosa de Selton Mello, beneficiado por uma construção dramatúrgica sólida, e certa palidez dos coadjuvantes.
No novo "O Nome da Morte", Goldman volta a tomar como ponto de partida uma história real, a do pistoleiro Júlio Santana, que matou quase 500 pessoas em mais de 30 anos.
Quando comparado a "Jean Charles", "O Nome da Morte" revela o amadurecimento do cinema de Goldman, a começar pelo desenvolvimento dos personagens, o que se deve ao roteiro e ao elenco.
Graças ao trabalho de Marco Pigossi, a aridez emocional de Júlio oscila em meio a nuances —mais fácil seria um vilão marcado por rompantes. Os personagens que o cercam também são atraentes.
É o caso da mulher do criminoso, Maria (Fabiula Nascimento), e de Cícero (André Mattos), o tio policial que conduz Júlio no caminho para se tornar pistoleiro. O mentor, aliás, é quem acrescenta humor a "O Nome da Morte".
Goldman acerta ao praticamente limitar o apelo cômico a esse personagem. Se ampliasse o recurso, poderia cair num arremedo de Tarantino, o que afundaria o filme.
Com doses equilibradas de ação, drama e suspense, o diretor trata com sobriedade o assassino. Não o vê com simpatia —é crescente a crueldade de suas ações. Tampouco o reduz a um monstro, negando a ele sinais de humanidade.
A direção de fotografia de Azul Serra contribui para essa leitura avessa aos estereótipos. A escassa luminosidade das cenas caseiras ampara o emaranhado de conflitos morais e religiosos que perseguem o criminoso e a sua mulher. A angústia deles, porém, se encolhe diante da ambição.
A partir de um jovem eletricista, "Jean Charles" retratava a comunidade brasileira em Londres. "O Nome da Morte" faz algo semelhante, transitando entre a observação do indivíduo e sua sociedade.
Sem esquecer a brutalidade do pistoleiro, mostra o Brasil à mercê do corporativismo da polícia e da ineficiência da Justiça. A atualidade do filme é prova de como o país converte a tragédia em cotidiano.
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