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Falhas no roteiro e obviedade na direção enfraquecem o suspense 'Acrimônia'

Roteirista e diretor, Tyler Perry não está à altura das filigranas alcançadas por seu elenco

SÉRGIO ALPENDRE

Acrimônia

  • Quando Estreia nesta quinta (9)
  • Classificação não informada
  • Elenco Taraji P. Henson, Lyriq Bent, Crystle Stewart
  • Produção EUA, 2018
  • Direção Tyler Perry

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Um dos truques mais certeiros de um suspense é a inversão de expectativas. O espectador é levado a construir uma ideia a respeito dos personagens e das situações para ter seu tapete puxado, brusca ou delicadamente, dependendo do diretor.

Tyler Perry, prolífico diretor de cinema e TV, pende para o lado brusco em seu recente "Acrimônia". Mas se esquece de aprimorar o truque e fornece pistas demais de algumas mudanças que opera.

Para começar, a construção em flashback enfraquece consideravelmente o suspense e é atrapalhada por uma narração que entrega bem mais do que deveria.

Estratégia mais antiga que o advento do som no cinema, o flashback tem sido usado como se fosse regra obrigatória da contemporaneidade. Mas em muitos casos, uma trama narrada em flashback cresceria em dramaticidade se fosse desenvolvida de forma linear. É o que acontece em "Acrimônia".

É a própria protagonista, Melinda (Taraji P. Henson), que narra seus desatinos com o marido, Robert (Lyriq Bent). E desde o início começamos a nos perguntar algumas coisas, mas sem muitas expectativas com relação às respostas. 

Até quando ela aguentará esse irresponsável? De que maneira se dará a situação do tribunal que vimos no início? E até que ponto a loucura da protagonista irá chegar?

O itinerário do filme é logo traçado. Sabemos que tudo isso irá acontecer em algum momento. Se aguentarmos até dois terços da duração, o filme nos presenteará com algumas reviravoltas interessantes. Mas até aí é duro de aguentar.

Primeiro porque Melinda, apesar (ou até por causa) do talento de Henson (sempre uma boa atriz, mesmo nos papeis mais ingratos) e da jovem atriz que a interpreta na juventude (Ajiona Alexus), é uma protagonista que só merece nossa simpatia 20 minutos.

Segundo porque a direção de Perry não consegue evitar uma série de soluções banais de seu próprio roteiro, como a relação mal explicada entre Robert e uma antiga amante, a insistência na construção de uma fonte de energia, ou o já mencionado excesso de voz off explicativo.

Finalmente, porque o jogo das expectativas nunca chega a funcionar para o espectador que estiver atento às nuances de cada interpretação e à obviedade da direção.

Ou seja, Perry, como roteirista e diretor, não está à altura das filigranas alcançadas por seu elenco. Por vezes, atores e atrizes forjam um filme bem sucedido, apesar das falhas do roteiro e da direção. Aqui, eles só conseguem evitar o desastre.

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