Festa do Peão de Barretos congrega fusão plural de sertanejos

Cada feudo do Parque do Peão é um microcosmo que abarca desde o som de raiz até o universitário

Marcelo Toledo
Barretos (SP)

No último fim de semana, o advogado Heverton Nascimento, 46, deixou Uberlândia, em Minas Gerais, com a mulher, Raquel, e dois amigos para ver o show de Shania Twain na Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos.

Era a primeira experiência dele no maior festival do gênero no país, motivada exclusivamente pela apresentação da cantora canadense.

Nascimento é simultaneamente regra e exceção nas estatísticas do festival. Como ele, a maioria dos frequentadores é homem —59%— e vai com amigos à festa. Mas só 13,7% leva namorados ou cônjuges.

Como o advogado mineiro, boa parte dos visitantes da festa, que termina neste domingo (26), vai a Barretos, a 423 km de São Paulo, apenas por causa dos shows, e não pelas provas do rodeio, que fizeram a fama do evento e da cidade do interior paulista.

Duas pesquisas feitas aos longo da última década por Os Independentes —associação que organiza a festa—, a mais recente delas em 2015, mostram que um de quatro frequentadores são atraídos pelos artistas nacionais ou estrangeiros, como Shania.

O perfil geral aponta que o visitante de Barretos é paulista, tem entre 20 e 39 anos (67% do total) e renda familiar superior a dez salários mínimos (R$ 9.540, 40,4% do total). Paulistanos representam um em cada dez presentes à festa. Apesar de 62% dos frequentadores serem do estado de São Paulo, mineiros, fluminenses, paranaenses e goianos somam 27,9% dos turistas.

“Já conhecia o local, mas não durante a festa. E queria ver a Shania, que é minha cantora favorita. Fiquei impressionado e também preocupado com o tanto de gente que vi”, diz Nascimento, que veio de Uberlândia numa excursão de ônibus.

Essa mistura se reflete nas ruas do Parque do Peão, em que o vestuário oscila entre o sertanejo, o country e o caipira, inclusive os três estilos no mesmo modelito.

Convivem em harmonia os visitantes com chapéu e camisa xadrez com os que apostam num look com botas de couro exóticas de R$ 5.000 e peças de roupa com rasgos e desgastes.

O comerciante Jeferson Campos, de Campinas, também no interior paulista, circulava no Parque do Peão com camisa de franja estilo Chitãozinho & Xororó nos anos 1980, fivela e bota de bico fino. 

Com ele, seus amigos Cleber Santos e Pedro Toledo usavam bonés, camisetas brancas e botas de couro de arraia, mais confortáveis —e caras.

De um lado da festa, no camping, os cerca de 15 mil frequentadores ouvem sertanejo-chiclete, funk e a discografia completa de Shania Twain, tocadas em possantes camionetes. Mas não falta também “Evidências”, hit de Chitãozinho & Xororó.

De outro, na feira comercial do parque, só dá sertanejo universitário e, na chamada matinha, localizada na antiga fazenda que abriga a festa, ouve-se apenas músicas raiz, tocadas ao vivo sem uso de instrumentos eletrônicos.

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