Retrospectiva em São Paulo ilumina 70 anos de carreira de German Lorca

Aos 96, fotógrafo brasileiro que se dividiu entre arte e publicidade mostra obras no Itaú Cultural

Fotografia de German Lorca que estará exposta no Itaú Cultural
Fotografia de German Lorca que estará exposta no Itaú Cultural - German Lorca
Isabella Menon
São Paulo

Contemporâneo de Irving Penn, o brasileiro German Lorca tem, como o americano agora alvo de mostra no Instituto Moreira Salles, um recorte de sete décadas de atividade exposto na avenida Paulista, algumas quadras mais adiante, no Itaú Cultural, a partir de 25 de agosto.

Aos 96, Lorca atribui sua boa disposição ao fato de ter sempre praticado esporte e não ter fumado. Com os olhos brilhando, relembra que começou a fotografar durante sua lua de mel, nos anos 1940. 

Lorca diz que o bom resultado obtido com a câmera, que nem dele era, fez com que se interessasse pelo ofício.

Formado em ciências contábeis, começou a fotografar em paralelo e, logo, “ganhava mais com a fotografia”. “Percebi que tinha algo errado ali.”

O primeiro trabalho bem-sucedido a sair de seu laboratório no Brás, diz o fotógrafo, foi feito em 1949, com a técnica da fotografia solarizada, que aprendeu com o amigo Geraldo de Barros. 

 

A imagem foi batizada “Le Diable au Corps” —título original do filme “Adúltera”, que inspira o retrato de um homem de torso nu junto a uma vidraça.

Naquele momento, Lorca fazia parte do Foto Cine Clube Bandeirante, grupo de fotógrafos que modernizaram a linguagem no país na primeira metade do século passado. 

Para transmitir movimento, Lorca desenvolveu a técnica de sobrepor dois negativos e ampliá-los numa só fotografia —como em “São Paulo Crescendo” e “Menino Correndo”, feitas na década de 1960. 

O invento gerou debates no fotoclube, onde argumentavam que imagens modificadas não podiam participar de concursos. A qualidade delas, no entanto, acabou sendo reconhecida pelos pares de Lorca.

A atuação do fotógrafo mesclava produções pessoais e trabalhos publicitários —a agenda dupla, aliás, acabou por afastá-lo do grupo do Foto Cine Clube Bandeirante. 

O curador da mostra, Rubens Fernandes Júnior, atribui ao trabalho comercial o fato de o fotógrafo não ter tido imagens suas em exposições no Brasil entre 1970 e 1990. “A fotografia passou a ser atrelada à publicidade. Nisso, o trabalho autoral só retomou a força no final dos anos 1980.” 

Mas o olhar de Lorca, afirma o curador, oferecia soluções criativas, e o próprio fotógrafo se define como corajoso.

Às vezes, ele diz, até um tanto inconsequente, como no episódio em que teve que retratar uma girafa para uma campanha e ela saiu correndo em direção ao Vale do Anhangabaú. “O dono da girafa gritava dizendo que se não recuperasse o animal, teria que pagar 2 milhões de cruzeiros”, lembra o artista, rindo.

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