Criolo cita Marcela Temer, Geddel e morte de Marielle em clipe; entenda referências

'Boca de Lobo' é cheio de alusões a episódios marcantes no rastro dos atos de junho de 2013

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Cena de 'Boca de Lobo', novo clipe do rapper Criolo, que alude a protestos recentes no Brasil

Cena de 'Boca de Lobo', novo clipe do rapper Criolo, que alude a protestos recentes no Brasil Reprodução/YouTube

São Paulo

​Ratos gigantes saem da cratera do metrô Pinheiros e caminham por uma São Paulo destruída por explosões e tiroteios da polícia a partir de helicópteros. Uma cobra enorme se infiltra e passeia pelas ruas do centro da maior cidade do país, sujo por detritos do incêndio que fez desabar um prédio no largo do Paissandu. Um porco chafurda na lama deixada pelo rompimento da barragem da mineradora Samarco, em Mariana.

É um cenário de guerra, povoado por bichos que dão medo em uma população atônita diante da truculência policial e da corrupção o que se vê no novo clipe do rapper Criolo, “Boca de Lobo”, lançado nesta semana.

Em quase quatro minutos, um dos mais importantes rappers da nova geração da rima no país representa o Brasil pós-junho de 2013 de maneira sombria —o vídeo é cheio de referências a momentos marcantes da história recente do país.

 
Logo nos primeiros segundos, aparece o prédio invadido que pegou fogo no largo do Paissandu, em São Paulo, que matou nove pessoas. Em uma das janelas do edifício em chamas, alguém bate panela, uma referência ao movimento em apoio ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

Em seguida, cenas de confronto entre policiais a cavalo e manifestantes a pé fazem alusão aos protestos de 2013, que tiveram forte repressão policial. Entre um corte e outro, a câmera mostra a televisão ligada dentro de um bar —o noticiário exibe imagens do recente incêndio no Museu Nacional, no Rio de Janeiro.

 
“Nem Pablo Escobar, nem Pablo Neruda / já faz tempo que São Paulo borda a morte na minha nuca / a pauta dessa mesa coroné manda anotar / esse ano tem massacre pior que de Carajá”, ele canta.

Enquanto as brigas tomam as ruas, a elite bebe uísque e cheira cocaína em um ambiente sofisticado. O take, mais para o meio do clipe, seria uma alusão ao episódio em que Sérgio Cabral, então governador do Rio de Janeiro, teria gastado dinheiro público desviado em um hotel de luxo em Paris. O fato ficou conhecido como a "farra dos guardanapos”, pois a trupe estava com guardanapos de pano enrolados na cabeça.

Uma das mulheres presentes ali veste uma camiseta da Gucci com os dizeres “recatada e do lar”, referência a uma reportagem da revista Veja que apresentava a primeira-dama, Marcela Temer, 43 anos mais jovem que o marido, como se fosse uma donzela do século 19.

Um sujeito engravatado também aparece arrumando malas abarrotadas de dinheiro. Ele seria o ex-ministro Geddel Vieira Lima, cujas digitais foram encontradas nas malas que guardavam R$ 51 milhões em um apartamento em Salvador.

Próximo ao final da música, há também uma referência à vereadora assassinada Marielle Franco, que aparece em pé, parada, com sua silhueta visível à luz de uma fogueira a consumir objetos. Nas cenas que encerram o clipe, um morcego imenso sobrevoa a Praça dos Três Poderes, em Brasília, enquanto raios e trovões anunciam uma tempestade.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.