Descrição de chapéu

Drama ambientado em Paris dialoga com a nouvelle vague

Segundo longa de Élise Girard coloca em cena dois personagens deslocado

Alexandre Agabiti Fernandez
São Paulo

Um Segredo em Paris

  • Classificação 12 anos
  • Elenco Lolita Chammah, Jean Sorel, Virginie Ledoyen, Pascal Cervo
  • Direção Élise Girard

O segundo longa de Élise Girard coloca em cena dois personagens deslocados. Mavie (Lolita Chammah), uma jovem interiorana solitária que acaba de chegar a Paris, e Georges (Jean Sorel), um septuagenário rabugento dono de uma livraria onde ela logo se torna a única funcionária.

 

O filme estabelece um diálogo com alguns aspectos da nouvelle vague, como o interesse por personagens problemáticos, que são tratados com humor e leveza; a paixão pela literatura, que aproxima Mavie e Georges; os diálogos coloquiais e a escolha de Paris e suas ruas como espaço para as errâncias dos personagens.

Mas aqui vemos uma Paris algo idealizada, quase sem moradores e, sobretudo, sem turistas, mas concreta e ao mesmo tempo algo fantástica – sensação amplificada pelas gaivotas que caem mortas regularmente sobre as calçadas sem razão aparente, mistério que o filme não se dedica a elucidar, assim como outros acontecimentos estranhos.

Ensimesmada, Mavie se veste de modo anacrônico, parece uma solteirona precoce. Escreve à mão nas mesas dos cafés, tem vagas aspirações literárias. Está em busca do seu lugar no mundo.​

 

Georges tem quase o triplo da idade dela. Misantropo e elegante, tem uma rebeldia de adolescente. Os poucos clientes que entram em sua livraria são despachados de imediato pelo dono, sem qualquer cerimônia.

Mavie fica intrigada com Georges. Como ele consegue sobreviver agindo assim e tendo uma livraria completamente desorganizada? Outro enigma é o seu passado, do qual não fala. Mas ela acaba descobrindo que Georges participou da luta armada na Itália, na década de 1970, e desde então é um fugitivo.

Apesar do jeito ríspido de Georges e da enorme diferença de idade, nasce entre eles um amor atípico, mental, sem contato físico. Um amor permeado pela cumplicidade, pelo apego à literatura, ao conhecimento.

Quando Georges se vê obrigado a partir, Mavie tenta encontrar consolo assistindo a um velho filme de Satyajit Ray, “Charulata” (1964), outra história sobre solitários que vivem uma paixão insólita. A cinefilia é outro traço da Nouvelle Vague.

Girard evita qualquer excesso, construindo um drama sutil, cujo encanto está na poesia deste amor fora dos padrões, desta cidade fora do tempo, desta ficção que nunca quer soar plausível para melhor se afirmar como delicada fantasia melancólica.

A dupla de atores é fundamental para atingir esse resultado. Lolita Chammah –filha de Isabelle Huppert– compõe sua personagem com contenção e sensibilidade, enquanto Jean Sorel –que filmou com Visconti e Buñuel, mas hoje está um tanto esquecido– esbanja talento e carisma.

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