Zeca Camargo

Jornalista e apresentador, autor de “A Fantástica Volta ao Mundo”.

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Zeca Camargo

Jardim das Tulherias, em Paris, é cenário ideal para piquenique durante o verão

Sobre o tecido colorido, delícias compradas nas feiras livres ou nas vendinhas de qualquer esquina

É a pior época do ano para visitar Paris. Pelo menos é o que dizem os turistas mais esnobes sobre o alto verão na capital francesa. Eles acham que qualquer viajante tem o calendário do ano todo à disposição para escolher as datas de uma viagem.

Fato é que muitas vezes a única opção que a gente tem é passar pela cidade mais linda (e visitada) do mundo exatamente nessas semanas escaldantes. Você deve ter visto no noticiário recente: temperaturas encostando em 40°C! O que para nós, seres tropicais, é talvez uma semana fresca de verão lá é quase calamidade pública.

Algumas lojas, e até restaurantes, chegam a fechar agora em agosto, o mês de férias “sagrado” do trabalhador francês. Idem para as galerias de arte. E, como se não bastasse, até os museus que ficam abertos —os grandes, claro, seguem vendendo ingressos— economizam nas suas exposições.

Maíra Mendes

O Centre Pompidou está prestes a abrir a maior mostra recente sobre cubismo, mas só em outubro. O grande escultor e desenhista austríaco Franz West também chega lá com retrospectiva —em setembro (seu precioso acervo, felizmente, segue acessível ao visitante que quer passar algumas horas no ar-condicionado). 

E o Museu d’Orsay anunciou orgulhosamente uma mostra com a fase rosa e azul de Picasso para setembro também.

Meu museu favorito na cidade, o Quai Branly, estampa cartazes de uma tentadora coleção de arte de Madagascar. A abertura é em 18 de setembro. 

E o melhor que o Louvre pode oferecer como novidade nesta temporada é uma escultura monumental do japonês Kohei Nawa, embaixo de sua pirâmide de vidro.

Os caçadores de fotos instagramáveis do lado de fora do maior museu do mundo —que passam horas buscando o ângulo para a perfeita ilusão de ótica de que estão “segurando” a própria pirâmide— nem desconfiam, mas estão justamente ao lado do antídoto perfeito para esse “grande vazio” do verão parisiense. 

Pois ali mesmo, naqueles gramados impecáveis do Jardim das Tulherias, encontra-se a paisagem ideal para fazer um piquenique!

Que coisa mais inesperada. Um piquenique em Paris? Por que não? Já passei por um calor desses na cidade mais de uma vez. E a lembrança mais feliz que tenho desses dias bem quentes por lá é da minha amiga Betty dançando com o Louvre ao fundo, um tecido africano nas mãos (e sua saia invariavelmente curta), com uma música que só existia na sua cabeça. E nos sorrisos de todos nós, um grupo de pessoas muito queridas, em torno de uma toalha florida estendida na grama.

Sobre o tecido, pães, geleias, queijos, frutas, macarons, doces e um generoso pote de tarama, pasta de ovas de peixe que eu desde então associo a uma refeição feliz na cidade. Ah! E vinhos, “bien sûr”! Garrafas de menos de € 10 (R$ 46) que, apenas frescas no isolamento das bolsas térmicas usadas para levá-las, eram tudo que nossa sede pedia.

Já estendi toalhas em outros cantos de Paris. Nas mesas públicas dos jardins do Museu de História Natural —diga-se, um dos mais belos (e não tão cheios) lugares que você pode visitar no verão. Às margens do rio Sena, na deslumbrante Place des Vosges... E, sobre o tecido colorido, delícias que a gente compra nas feiras livres (que felizmente não são interrompidas nessa época do ano) ou nas vendinhas de qualquer esquina da cidade.

E quem precisa de mais do que amigos e de boa comida num cenário como esse?

O céu, se aberto, ainda contribui com o conjunto e faz contratempos de logística de viagem serem esquecidos já no segundo copo de pinot noir que você toma deitado sobre o verde macio.

São lembranças assim que te permitem responder àquele turista esnobe que lamenta que você só pode visitar Paris em agosto. Mesmo? 

Se alguém acha que existe um tempo ruim para passear nesse cenário de sonhos, talvez o problema não seja Paris, mas quem não sabe aproveitar o melhor dela.

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