Descrição de chapéu

'Parque do Inferno' é rara exceção em meio à pobreza dos filmes de terror

Longa sabe jogar com a dualidade entre encenação e realismo e nos deixa sempre em dúvida

Sérgio Alpendre

Parque do Inferno

  • Classificação 16 anos
  • Elenco Bex Taylor-Klaus, Reign Edwards, Tony Todd
  • Produção EUA, 2018
  • Direção Gregory Plotkin

Um filme de terror ambientado em um parque de diversões cuja temática é justamente o medo das pessoas. A ideia é tão óbvia e fácil que podemos nos espantar que não tenha sido explorada em muitos outros filmes, ou pelo menos em bons filmes.

Divertimentos bacanas como “Pague para Entrar, Reze para Sair” (1981), de Tobe Hooper, são raros, e os longas de terror ambientados em parques de diversões tendem a ser tão adolescentes na construção dramática quanto os personagens que vemos em suas narrativas.

Uma rara exceção é este interessante “Parque do Inferno”, no qual seis adolescentes ganham passe VIP para desfrutar todas as diversões do local que intitula o filme.

Cena de 'Parque do Inferno'
Cena do filme 'Parque do Inferno', em que mascarado assassina visitantes de um parque de diversões - Divulgação

Um estranho mascarado se mistura com os funcionários do parque e começa a assassinar as pessoas movido por um prazer mórbido e secreto. Nada o motiva, ao que parece, a não ser o prazer de interromper essas vidas. Isso é ainda mais assustador.

Acostumados à pobreza do cinema de gênero atual, normalmente estruturados de forma preguiçosa para um público pouco exigente, pouco esperamos de uma trama dessas.

Por outro lado, há uma interessante sequência de bons filmes de horror nos últimos anos e isso não deve ser desprezado. É nessa sequência que “Parque do Inferno” se encaixa, felizmente.

Gregory Plotkin, em seu segundo longa, sabe jogar com a dualidade entre encenação e realismo e nos deixa sempre no território da dúvida, assim como os personagens.

A cada assassinato real, os adolescentes o tomam como uma convincente farsa e saem ainda mais impressionados com o parque —e, consequentemente, com a guarda mais baixa diante da situação.

Esse jogo de ilusões e emoções coloca o filme em outro patamar: o da reflexão sobre o realismo da encenação como facilitador de nossos maiores medos. É um tanto ambicioso para um filme desse tipo, e de certo modo o sucesso é apenas parcial nesse sentido.

Porque mal encobre dois sérios problemas: a) os tolos laços românticos que se criam de modo postiço no filme; b) as fugas para o lado errado que, de tão estúpidas, atrapalham momentaneamente a fruição (exemplo: as duas garotas que saem do espaço aberto, mais seguro, para fugir do assassino em um labirinto).

Mas o filme vence definitivamente na cena final, acachapante e perturbadora também por ser um retrato preciso da América.

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