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Performance credencia Giancarlo Guerrero como possível titular da Osesp

Nascido na Nicarágua e criado na Costa Rica, maestro estudou nos Estados Unidos; atualmente rege a Sinfônica de Nashville

Sidney Molina
São Paulo

Se, na prática, os sons simplesmente substituem uns aos outros para traçar o discurso musical, por que temos a nítida impressão de movimento –a imagem de que um som “é transformado” em outro? Afinal, rigorosamente falando, um “fá” não desce para “mi”, nem um “si” sobe a “dó”: são notas diferentes emitidas.

Uma das respostas –sem que precisemos nos enredar em complexidades filosóficas e psicológicas– é que a percepção das alturas dos sons não se separa da dimensão primária do ritmo, isto é, o sons não são percebidos isoladamente, mas dentro de um fluxo temporal.

Esse primado do tempo, do ritmo, das durações como elemento organizador das frases sonoras, é a primeira (e mais forte) característica do maestro Giancarlo Guerrero, que regeu a Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) na semana passada e segue à frente dela nesta semana.

O maestro  Giancarlo Guerrero
O maestro Giancarlo Guerrero - Kurt Heinecke/Divulgação

Se há em curso uma busca –e até uma disputa– pela sucessão da titular Marin Alsop (cujo mandato termina no final de 2019), ela está sendo conduzida muito discretamente pela comunidade da orquestra.

De todo modo, qualquer lista de possíveis candidatos deve incluir Guerrero entre eles.

Nascido na Nicarágua e criado em Costa Rica, ele estudou nos Estados Unidos, onde atualmente rege a Sinfônica de Nashville (também é diretor artístico em Wroclaw, na Polônia). Guerrero tem sido um assíduo colaborador da orquestra desde 2010, quando inclusive participou de uma mesa redonda na Folha.

Sua experiência com o repertório latino-americano é obviamente relevante para uma orquestra como as ambições da Osesp, assim como uma gestualidade que –sem ser propriamente exagerada– agrada também à plateia.

Para além do rigor com o ritmo —que se alia à busca por uma sonoridade ampla e exuberante– Giancarlo Guerrero tem refinado, ao longo dos últimos anos, a arte de esculpir os timbres, as cores sonoras e o equilíbrio fino entre os naipes.

Em seu concerto da semana passada, mostrou segurança total em um repertório desafiador: “A Grande Páscoa Russa”, de Rimsky-Korsakov (1844-1908), um passeio por efeitos sonoros, dos mais delicados aos mais estrondosos; a estreia americana de “Step Right Up”, do português Vasco Mendonça, que teve solo de piano de Roger Muraro; e “Petrouchka”, o célebre balé de Stravinsky (1882-1971).

Escrita em 2018, a obra de Mendonça é uma coencomenda da Osesp. Sem utilizar nenhum clichê tonal, ele propõe relações diversas entre piano e orquestra ao longo dos três movimentos: primeiro o piano responde e complementa a massa, sem conseguir se impor; depois o material básico parece nascer e se ramificar a partir do puro som das teclas; enfim, uma interação muito lógica resvala no embate entre solo e tutti. Muraro, que é professor de piano do Conservatório de Paris, fez também um recital solo no domingo passado.

Guerrero regeu “Petrouchka” de memória. Tirou muito som da Osesp, e contou também com noite inspirada dos solistas de trompete e madeiras, bem como da comunhão sonora entre o piano e os efeitos das cordas.

Nesta semana ele tem novo desafio: encara a “Sinfonia n.7” de Bruckner e, em seguida, responde a perguntas do público na Sala São Paulo.

Osesp

  • Quando qui.(29) e sex. (30) às 20h30; sáb.(1/12) às 16h30 (Bruckner)
  • Onde Sala São Paulo, praça Júlio Prestes, 16, tel. (11) 3667-9500
  • Preço de R$ 50 a R$222
  • Classificação 7 anos

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