Em “O Sol Também se Levanta”, o romance de Ernest Hemingway, um personagem pergunta como outro foi à falência. “De dois modos”, responde ele. “Pouco a pouco e então de repente.”
A resposta também pode ilustrar a situação a que chegou o mercado editorial em 2018 e o ano novo de incertezas que se anuncia —embora, é claro, o setor não tenha ido à falência como um todo.
Depois de anos de práticas perigosas, como a consignação, guerra e defasagem de preços, além de dívidas de livrarias que se acumulavam, o setor chega ao fim do ano com as duas principais redes de livrarias do país, a Saraiva e a Cultura, no início de um processo de recuperação judicial. Juntas, elas acumulam dívidas de quase R$ 1 bilhão.
É cedo para saber se as duas redes vão se reerguer, mas sem dúvida sairão desse processo menores —na verdade, já chegam a ele encolhidas, com o fechamento de lojas e diversas demissões.
Aí está o nó que os editores precisam desatar em 2019. Ainda não há solução no horizonte. A maior parte dos editores apostava que o presidente Michel Temer estabeleceria o preço fixo do livro no Brasil, inspirado em políticas semelhantes de países europeus —impopular, a iniciativa limitaria a 10% o desconto sobre o preço de um livro lançado durante um ano.
O mais provável, no governo Jair Bolsonaro, de orientação ultraliberal na economia, é que a ideia seja sepultada. Agora resta saber que novo arranjo a mão invisível do mercado vai criar —e quem sairá vivo ao fim do processo.
Ano teve prêmio falso e cancelamento do Nobel de literatura
A mentira não é algo estranho ao meio literário. Mas, neste ano, ela parece ter chegado ao paroxismo. O escritor Antonio Salvador criou o Babel Book Award, prêmio que prometia € 200 mil (R$ 802 mil) a um escritor de língua portuguesa. Só que havia um detalhe —o prêmio era falso.
Mas este ano foi difícil também para os prêmios verdadeiros. O Nobel de literatura foi engolido por um escândalo sexual. Jean-Claude Arnault, marido de uma integrante da Academia Sueca, instituição que concede o troféu, foi acusado de assédio por 18 mulheres e, em outubro, foi condenado à prisão por estupro. No desenrolar da crise, o prêmio foi adiado. No ano que vem, dois autores serão escolhidos.
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