Na praia da Pipa, Fest Bossa e Jazz agrada ao eliminar palco gigante

Organização espalhou shows pela região litorânea do RN em evento que acabou neste domingo (16)

Carlos Bozzo Junior
Tibau do Sul (RN)

Fez sucesso o formato mais enxuto do Fest Bossa e Jazz, realizado na praia da Pipa, em Tibau do Sul (RN), entre quinta (13) e domingo (16). 

Ruas, pousadas e estabelecimentos comercias da região litorânea, distante cerca de 80 quilômetros de Natal, ficaram lotados. 

Diferentemente das edições anteriores, nas quais as atrações se apresentavam em apenas um palco montado em um terreno de 18 mil metros quadrados, com estrutura de uma grande arena de shows, a 18ª edição do evento assumiu a pegada de festival de rua, e levou a festa ao povo em vez do povo à festa.

A mudança foi bem-sucedida e agradou pela diversidade apresentada. “O formato com vários ‘pocket shows’ [shows curtos], diferentes entre si, democratizou bastante. Dessa forma, você conhece novos músicos e ainda dinamiza a hotelaria, restaurantes, bares e qualquer outro comércio da praia da Pipa, além de tornar o evento mais intimista”, disse o auditor federal Walber Alexandre Silva, 45, pernambucano que mora em João Pessoa. Foi para Pipa especialmente para o festival, do qual já havia participado em edições anteriores.

Entre os shows a que assistiu, Silva destacou o do baterista Di Steffano e seu quarteto, além do da cantora Taryn Szpilman, por estarem mais ligados ao jazz.

As jam sessions que aconteciam no final de cada noite também foram muito apreciadas pelo público. “São muito bacanas, porque os músicos se apresentam de maneira natural; sem a pressão de fazer um show com tempo e formato preestabelecidos acontecem coisas mais interessantes”, afirmou Silva.

Clidenor Souza, 59, pernambucano, mora em Pipa há quatro anos e é um dos sócios do grupo que administra o Sun Bay Hotel, um dos muitos hotéis na região. “Temos 132 apartamentos e todos ficaram ocupados [durante o festival]. Nossa taxa de ocupação fica na faixa de 58%. Com o festival, subimos para 100%”, disse Souza, que ouviu de hóspedes noruegueses elogios sobre a qualidade musical e diversidade dos shows.

Contudo, há quem não goste do evento. “Rapaz, eu não vi show nenhum e não gosto desse festival. O movimento aumenta muito e aqui [um pequeno supermercado] fica aberto até bem mais tarde e atrasa para eu chegar em minha casa”, disse Maria, sem revelar seu sobrenome, caixa do supermercado São José e que mora em Goianinha, a 24 quilômetros da praia da Pipa.

Mais de 40 crianças de escolas municipais das redondezas, além de algumas da comunidade, participaram das oficinas oferecidas gratuitamente —como todas as atrações do festival.

Entre elas, a de ritmo e movimento fez com que, em duas horas, os pequenos descobrissem sons que podem ser produzidos com o corpo. Na oficina, também construíram instrumentos com materiais recicláveis —garrafas PET e latinhas de alumínio— para depois tocarem músicas como “Garota de Ipanema”.

“Muitas dessas crianças após a oficina manifestam interesse em estudar música, o que é muito importante para a formação delas”, disse Emily Frank, 20, estudante potiguar de jornalismo e monitora que auxiliou nas oficinas do evento.

Entre os workshops, o de gaita foi ministrado pelo músico carioca Flávio Borges Guimarães, 55, integrante do Blues Etílico, um dos grupos de maior sucesso no festival.

“Ficamos surpresos com a repercussão do show, porque visivelmente muita gente conhecia nosso repertório e cantou junto, além de pedir músicas autorais. Entre elas, ‘O Sol Também Me Levanta’, que todo mundo se refere como ‘aquela da caipirinha’”, falou o artista, sobre a composição dele em parceria com o baixista Cláudio Bedran.

Outros pedidos atendidos pela banda foram “Misty Mountain”, de Greg Wilson e Otávio Rocha, e “Dente de Ouro”, de domínio público, com arranjo adaptado pelo Blues Etílicos.

Outro show que “causou” no festival foi o da experiente cantora, atriz e dubladora Taryn Szpilman. No primeiro dia do evento, o início do espetáculo foi interrompido por uma breve chuva, dispersando as pessoas. A cantora retornou e quase não conseguiu abandonar o local, pois o público triplicou quando estiou e não queria o fim da apresentação.

“Depois de cinco músicas, tivemos que parar para não morrermos eletrocutados com a água da chuva em contato com o equipamento. Mas são Pedro ajudou, e acho que espalharam que o show estava bom; o povo voltou em um número muito maior. Foi uma noite mágica, com ‘defeitos especiais’, mas que agradou a todos nós e ao público”, disse a artista.

Cortejos embalados pela performática Bossa & Jazz Street Band, formada por seis músicos e maestros de filarmônicas do interior do estado, que transitaram entre os shows, foram um grande sucesso. A orquestra filarmônica Monsenhor Honório, formada por 62 pessoas, com idades entre 10 e 75 anos, apresentou-se com 30 de seus integrantes e também fez da festa mais festa.

Com apresentações realizadas em sete polos noturnos, na avenida Baía dos Golfinhos —a principal de Pipa e onde acontece o "footing" local—, além dos cinco pontos espalhados pela praia para os shows diurnos, o Fest Bossa e Jazz Pipa deve repetir o formato em 2019 para a felicidade de todos. Menos de Maria, a caixa do supermercado.

O jornalista viaja a convite do Fest Bossa e Jazz 

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