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Hering aposta nos segredos de sua camiseta em nova loja básica

Malharia catarinense inaugura primeira 'basic shop' no Rio e planeja expansão em 2019

Da esq. para a dir., os modelos Jou Bellini. Renata Sozzi e Jorge Alano vestem camisetas Hering

Da esq. para a dir., os modelos Jou Bellini. Renata Sozzi e Jorge Alano vestem camisetas Hering Hudson Rennan/Folhapress

Pedro Diniz
Blumenau (SC)

Moda praia e sandálias de borracha podem ser os carros-chefes da costura nacional no exterior, mas é uma camiseta básica, lisa e que não custa mais que R$ 50, a peça-chave do corpo brasileiro desde os anos 1970.

Difícil encontrar alguém vivo que um dia não tenha comprado numa feira popular ou, desde os anos 1990, em lojas próprias, pelo menos uma peça branca da Hering. A marca catarinense de 138 anos quer voltar às origens espalhando pelo país seu projeto de Basic Shop (ou, loja básica).

O Rio de Janeiro acaba de receber o piloto da empreitada, que consiste em pequenos pontos de venda especializados apenas em camisetas, camisas e outras peças de vestuário sem ou com quase 
nenhuma intervenção.

Com o plano de abertura de pontos ainda mantido sob sigilo, o novo negócio ganhará uma segunda loja no próximo ano, em São Paulo, provavelmente no primeiro semestre.

A ideia, fala-se nos bastidores, é recolocar na linha de frente as criações que fizeram a fama da pequena malharia de imigrantes alemães, fundada em 1880, que desde o início deste século preteriu seus itens essenciais ao vaivém de tendências. 

Aderir ao fashionismo abriu espaço para novas linhas e uma aproximação com a moda, mas a estratégia se desgastou quando, em 2012, os números começaram a cair. Dos R$ 8 bilhões alcançados em seu auge, a marca passou a valer R$ 2 bilhões em 2016. 

Num momento em que, para se diferenciar, grifes precisam olhar para aquilo que as torna únicas, soa inteligente a ideia de celebrar os segredos de uma roupa aparentemente simples para sacudir a poeira.

Um dos consensos sobre a moda é que grifes importantes na construção de um estilo guardam fórmulas exclusivas, e a Hering afirma ter várias.

Parte crucial do processo de confecção acontece num prédio brutalista desenhado pelo austríaco Hans Broos com um jardim suspenso de Burle Marx, em Blumenau, a 140 km de Florianópolis.

Plumas de algodão saltam dos teares circulares, muitos projetados especialmente para a marca com medidas e proporções calibradas para tecer do jeito certo e nas medidas corretas as peças modeladas com cálculos próprios.

O reconhecido “caimento perfeito” das camisetas parte de uma tecnologia inventada pela grife, a “body size”, que produz itens de modelagem reta adaptável para qualquer tipo de corpo, e o modelo “world”, chamada nos anos 1990 de camiseta mundial.

A cava com abertura maior nas mangas dá flexibilidade aos movimentos, e o decote com costura reforçada, durabilidade. Ambos os modelos constituem, junto ao tingimento, o tripé da peça icônica.

Um dos poucos detalhes mantidos em segredo e ao qual este repórter não teve acesso na visita guiada por uma especialista foi exatamente a área reservada à produção química das cores.

A empresa diz deter uma fórmula de compostos que não deixa a camiseta desbotar após lavagens consecutivas.

Mas é evidente que um plano de negócio, por mais robusto que seja, e bons produtos não bastam para explicar o império básico da empresa.

É preciso entender o papel da camiseta na formação do estilo jovem dos anos 1950 e 1960, que mergulhou os Estados Unidos na mania de jeans e camiseta que em pouco tempo chegou ao hemisfério sul.

Até pouco depois do pós-Guerra, usar camiseta na rua seria indecente, elas eram tidas como roupa íntima e tinham trama aberta, mais transparente que as de hoje.

Foi só quando as imagens de Marlon Brando, em “Um Bonde Chamado Desejo” (1951), e James Dean, em “Juventude Transviada” (1955), rodaram o mundo, que a peça virou símbolo de rebeldia sensual.

Para se ter uma ideia do alcance das camisetas no Brasil, em 1997, passadas quatro décadas desde o frisson Dean, a Hering  atingiu a marca de 5 bilhões de básicas vendidas.

Se naquela época toda a população brasileira comprasse o montante, cada pessoa teria cerca de 30 modelos no guarda-roupa, número nada básico nem mesmo para um ícone. 

O jornalista viajou a convite da Hering.

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