Andrei Tarkovski enxergava como tempo perdido a estrutura dramática normal, prolongada em excesso para explicar ao público tudo o que está acontecendo. Preferia imagens abstratas e simbólicas ao representar sonho, memória e pensamento.
"Andrei Rublev", sobre um monge-pintor russo de ícones e afrescos que sofre uma crise criativa foi aclamado no exterior como obra-prima e negado à exibição geral na União Soviética. O longa marca um afastamento das convenções do realismo socialista após a morte de Stálin, em 1953.
Tarkovski preferiu retratar Rublev em um caminho de horrores, alcançando a beleza pela vivência nesses lugares e propondo uma reflexão sobre o papel do artista e do belo ante crueldades. A obra é apresentada no 25º volume da Coleção Folha Grandes Diretores no Cinema, que chega às bancas em 13 de janeiro.
O diretor morreu aos 54 anos em 1986, e se manteve com forte influência em seu país, apesar da perseguição política e estética. Suas obras foram vistas como "místicas" e "elitistas", distantes do "interesse do povo".
Faltava-lhe, diziam autoridades, falar do trabalhador.
"Os sonhos, a memória, a religiosidade, o devaneio, a evasão metafísica, as evidências parapsicológicas ou o mutismo são recorrentes na obra do diretor e podem ser lidos como manifestações de sua crença no poder de a arte transcender a matéria e revelar o que nela se oculta. Mas podem também ser interpretados como uma forma de resistência ao regime", diz Cássio Starling Carlos, crítico da Folha e curador desta coleção.
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